Liderança e Democracia

Liderar nunca é uma tarefa fácil. Mesmo em contextos favoráveis o cuidado no trato com as pessoas, a clareza na comunicação, a definição precisa dos objetivos a serem atingidos e a capacidade de antecipar medidas para desafios futuros, tornam o papel do líder sempre relevante e indispensável.

Nesta quadra desafiadora que estamos vivendo, todas as características acima mencionadas assumem uma dimensão bem maior e complexa.

Não há carisma ou capacidade de convencimento que sobreviva à ausência de um pensamento estratégico, democrático e agregador.

As crises passam – sim, mesmo essa pandemia passará – e com isso surge a necessidade da adoção de iniciativas estruturadoras, ajustes, redefinição de objetivos e, principalmente, coragem.

Fazer o certo nem sempre coincide com o senso comum e muito menos com soluções fáceis que agradem momentaneamente, mas que, na maioria das vezes, apenas adiam ou mascaram os problemas que virão no futuro.

A condução sóbria e equilibrada da crise sanitária que enfrentamos, bem como as reformas necessárias e inadiáveis para alavancar nossa economia, encontram dificuldades paralisantes, dentre outras questões do jogo e do arranjo  político, pelo evidente déficit de liderança.

Com o vazio de lideranças, tanto no mundo empresarial, e, especialmente, no mundo político, muitos têm surgido com discurso fácil, agradável para os ouvidos dos incautos, mas que trazem consigo apenas a ambição pelo poder com doses exageradas de intolerância.

Aliás, a história é pródiga em ensinar que são exatamente nos momentos de crise e falta de expectativas, que se deve ter extremo cuidado com as figuras que costumam emergir como solução para todos os males.

Há uma diferença abissal entre o falar e o fazer. Uma fronteira densa divide a retórica da ação.

É preciso muito mais que lábia, boa vontade e energia para solucionar problemas, a maioria deles complexos e que demandam, quase sempre, uma vocação inata para negociação, conhecimento de causa, honestidade, experiência e capacidade de convencimento.

Além disso é preciso também ter a confiança da maioria da população.

Em tempo de ceticismo e descrédito, a confiança é um ativo quase em extinção. E ela é conquistada, sempre à duras penas, seja pela capacidade de gestão dos problemas, seja também pelo exemplo, pelas boas práticas, pelos valores defendidos, pelo respeito à divergência e pelo diálogo.

E isso se faz por meio da (boa) política, único meio civilizado que o homem concebeu para solução dos problemas da coletividade.

Não há outro caminho que não passe pelo contraditório e pelo respeito à democracia, um regime que patrocina a convivência de pontos de vista diversos, respeita a diversidade e abomina a unidade de pensamento.

Temos, portanto, como perfil do líder desejado a simbiose entre a capacidade de gestão, a probidade e a abertura ao diálogo.

Um líder, em suma, deve ser necessariamente um democrata.