Rochas de plástico: aumento da poluição na Ilha da Trindade, no ES, preocupa pesquisadores

Por Mariana Cicilioti

Uma mistura amorfa de conchas, areia, sedimentos rochosos e uma imensa matriz de plástico derretido: esse “novo” tipo de rocha, resultado da poluição plástica global, já é encontrado na isolada Ilha da Trindade, um imenso paredão no ponto oceânico mais extremo do Brasil. O fenômeno alerta para a integração do lixo no ciclo geológico e na alteração – possivelmente irreversível – da dinâmica do ambiente costeiro e marinho em escala global. A ilha está a 1,2 mil km de Vitória, no Espírito Santo.

Em artigo publicado no periódico Marine Pollution Bulletin, pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em parceria com outras instituições brasileiras, relataram ter encontrado aglomerados rochosos plásticos nesta ilha remota e de acesso proibido a turistas. Lá, apenas a Marinha e pesquisadores têm acesso.

“As correntes oceânicas e as rotas marítimas do Atlântico Sul tornam a Ilha da Trindade um local estratégico para estudar o nível da poluição plástica global”, aponta Fernanda Avelar, doutora em Geologia pela UFPR e líder do estudo.

Foram encontrados dois tipos de “rochas de plástico”: os “plásticos aglomerados”, que são um aglutinado de material natural e plástico e as “plastic stones”, uma nova classificação proposta por Fernanda, que são as rochas encontradas em Trindade, compostas principalmente por plástico derretido com apenas uma pequena porcentagem de material natural.

O lixo marinho que chega à ilha pode ter origem em diversas partes do mundo, carregado por giros de correntes oceânicas e navios que passam pela região.

Ação humana pode ser irreversível para a natureza

Fernanda explica que essas formações de plástico podem se integrar ao ecossistema, inclusive com micro-organismos, fungos e algas se adaptando e usando essas “plastisferas” como substrato para se desenvolver.

“Essas formações são compostas por um aglomerado de restos de conchas (bioclastos), fragmentos de matéria orgânica, rochas, pedaços de rocha vulcânica e areias de praia, cimentados por uma matriz de plástico derretido”, acrescenta a pesquisadora.

Estudo publicado na revista científica Plos One no ano passado aponta que nada menos do que 171 trilhões de partículas de plástico – o equivalente a 2,3 milhões de toneladas – estão nos oceanos. Em uma comparação, é o mesmo peso, por exemplo, de 10 mil baleias-azul. Ou 5.137 aviões Boeing modelo 747-8 com carga máxima.

O maior ecossistema da Terra, que cobre 70% do planeta, sofre com acidificação, aumento do nível do mar, poluição difusa, erosão costeira, pesca insustentável, aumento da temperatura das águas, a lista é longa e perigosa.

O Pnuma, braço de Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas (ONU), também projeta que, até 2050, os oceanos terão mais plástico do que peixes se as tendências atuais não forem interrompidas. Mas não só os animais marinhos estão ameaçados, os seres humanos também.

O estudo conclui que a presença humana está diretamente ligada à formação desses novos materiais, atuando como agente de transporte, deposição e como fonte de calor para o derretimento do plástico.

“A ação humana já se tornou um agente geológico significativo, influenciando nos processos naturais do planeta”, afirma ela.

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