O professor de Química que realizou uma atividade com agulhas compartilhadas durante uma aula, em uma escola de Laranja da Terra, Noroeste do Espírito Santo, foi indiciado pela polícia. O inquérito foi concluído e o educador, de 35 anos, responderá pelo crime de “expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente”.
De acordo com a Polícia Civil, o caso chegou ao conhecimento das autoridades no dia 14 de março deste ano, com o relato do pai de uma das alunas do colégio. Ele relatou que a filha contou que o professor realizou uma aula prática de verificação de tipo sanguíneo, utilizando a mesma lanceta (dispositivos médicos para monitorar os níveis de glicose no sangue de pessoas com diabetes) em vários alunos, com a higienização apenas das mãos dos estudantes com álcool 70%. O pai também informou que dezenas de alunos estavam procurando a Unidade Básica de Saúde do município para realizar testes rápidos, suspeitando de um procedimento que contraria as normas de saúde.
Segundo as investigações, o professor vinha realizando o procedimento desde 7 de março, totalizando 43 alunos submetidos ao teste com a mesma lanceta. A diretora acionou a equipe de saúde do município, que encaminhou os alunos para exames.
Durante o inquérito policial, o professor admitiu ter realizado a aula prática nos dias 13 e 14 de março de 2025, com visualização de células sanguíneas em microscópio. De acordo com o delegado responsável pelas investigações, Guilherme Eberhard Soares, o educador alegou ter higienizado a lanceta de metal com água corrente, água destilada e álcool 70% entre cada uso. Porém, a diretora da escola afirmou que o professor não tinha autorização da equipe pedagógica para essa aula prática e que a escola não possuía material descartável para tal procedimento, que requer autorização da equipe pedagógica e dos pais.
Alunas que participaram da aula confirmaram que a mesma lanceta foi utilizada em todos, com higienização entre os usos, e que não houve pedido de autorização aos pais.
“A Coordenadora da Vigilância Epidemiológica informou que todos os alunos e o professor realizaram testes rápidos (sífilis, hepatite B, hepatite C e HIV) e sorologias complementares, com resultados negativos até o momento. No entanto, o inquérito ressalta que o crime de perigo concreto, tipificado no Artigo 132 do Código Penal, não exige a ocorrência de dano efetivo, mas sim a criação de uma situação de perigo. A utilização da mesma lanceta em múltiplos alunos, sem a devida esterilização, configura um risco real e iminente de contaminação”, disse o delegado.
Ao fim do inquérito, a polícia concluiu que a conduta do investigado criou uma situação de perigo concreto e iminente à saúde dos estudantes. O inquérito policial foi encaminhado ao Judiciário e ao Ministério Público para análise.