Presidente da Ales defende fechamento das divisas com o Rio

Marcelo Santos afirmou que o Governo do ES precisa estar preparado para tomar essa atitude, em duro pronunciamento sobre a megaoperação no Rio

Por ES360
Marcelo Santos é presidente da Ales. Foto: Lucas S. Costa/Ales

* Por Vitor Vogas

O Governo do Espírito Santo deve estar preparado para, literalmente, “fechar as divisas” com o Rio de Janeiro. Foi o que o presidente da Assembleia Legislativa (Ales), Marcelo Santos (União), afirmou na manhã desta quarta-feira (29). A ideia foi defendida por ele em pronunciamento durante a sessão plenária da Ales, repercutindo a megaoperação policial realizada na terça-feira (28) na capital fluminense Com mais de 120 mortos, a operação nos complexos do Alemão e da Penha já é considerada a mais letal da história do estado do Rio de Janeiro.

Em seu discurso, chamando a atenção para o perigo iminente que ameaça a população capixaba, o presidente da Ales alertou para a necessidade de reforço da segurança na divisa do Espírito Santo com o estado vizinho, devido à hipótese de membros do Comando Vermelho fugirem e buscarem refúgio em território capixaba: “Se a Polícia se render, o crime fica com mais poder de fogo. Se a Polícia se acovardar, as facções vão agir. E podemos esperar: eles vão vir para cá, como muitos já estão por aí, entre nós. Temos que nos preparar para fechar as divisas. Dentre os mortos no Rio de Janeiro, havia bandido do Espírito Santo. O nosso estado tem que defender a população”.

O presidente da Ales equiparou a atuação das organizações criminosas ao terrorismo e defendeu a reação do Estado. Ele lamentou as mortes resultantes da megaoperação, mas defendeu a ação das forças policiais contra a organização criminosa. Segundo Marcelo, as mortes só ocorreram por causa da reação de criminosos ao trabalho das Polícias Militar e Civil, que foram às comunidades cumprir mandados judiciais contra 100 alvos.

“Bom seria que os policiais pudessem cumprir as decisões judiciais sem mortes, mas foram recebidos pelos bandidos até com maior poder de fogo do que a polícia. Usaram até drones para atirar bombas nos agentes públicos, coisas que a gente só viu na guerra da Ucrânia. […] Isso somente aconteceu porque os bandidos atiraram contra policiais e, se atiram contra policiais, atiram contra o Estado, que está ali para defender a sociedade”, discursou o presidente da Ales.

Pré-candidato a deputado federal em 2026, o chefe do Legislativo Estadual criticou a omissão do Congresso Nacional: “Agora, depois dessas dezenas de mortes, vão aparecer para aprovar leis, mas passaram quatro, oito anos lá e não fizeram nada”. Marcelo também condenou a disputa eleitoral que ele identifica nas falas de agentes políticos: “Enquanto os governos do estado e federal ficam nessa disputa, as facções assumem tudo”.

A megaoperação foi executada na terça-feira (28) por forças policiais fluminenses, nos complexos do Alemão e da Penha, com o objetivo de prender integrantes da facção criminosa Comando Vermelho. Nesta quarta-feira (29), o governo do Rio de Janeiro confirmou 121 mortes decorrentes da operação, sendo 117 suspeitos e quatro policiais militares e civis.

Moradores do Complexo da Penha afirmam ter encontrado 74 mortos na mata, levados e enfileirados no chão de uma praça do bairro – em imagem chocante que tem circulado pelo planeta. A Polícia Civil do Rio fala em 63 corpos achados na mata. Também de acordo com a Polícia Civil do estado, a megaoperação resultou na prisão de 113 criminosos, 33 dos quais são de outros estados, como Amazonas, Ceará, Pará e Pernambuco. Mais de cem fuzis foram apreendidos.

Discordância no “minuto de silêncio”

Na sessão plenária da Ales, a megaoperação do Rio repercutiu nas falas de outros parlamentares. Um pedido de minuto de silêncio, logo no início da sessão, gerou discordância entre deputadas de esquerda e deputados de direita e de extrema-direita.

O pedido foi apresentado oralmente pelo Capitão Assumção (PL), em estrita referência aos quatro policiais cujas mortes foram confirmadas por autoridades. Assumção foi acompanhado por Lucas Polese (PL), Danilo Bahiense (PL), Coronel Weliton (PRD), Alcântaro Filho (Republicanos) e Zé Preto. Este último afirmou que somente homenagearia policiais, “porque vagabundo não merece homenagem”.

A contrapelo, as deputadas Iriny Lopes (PT) e Camila Valadão (PSol) também registraram o minuto de silêncio, mas com a ressalva de que era para “todas as vítimas da megaoperação”. “Política de extermínio não é política de segurança. Combate à criminalidade se faz com inteligência e não com violência. É lamentável que cristãos não lamentem a morte de todas as pessoas”, argumentou Camila.

O bate-cabeça entre Governo do Rio e Governo Federal

Desde terça-feira (28), o Governo do Rio de Janeiro e o Governo Federal têm divergido publicamente e apresentado versões oficiais conflitantes acerca de pontos nodais relativos à megaoperação.

Inicialmente, em severa crítica ao Planalto, o governador Cláudio Castro (PL) chegou a declarar que o Governo Federal teria negado pedidos de ajuda feitos pelo Palácio da Guanabara, deixando o Governo do Rio de Janeiro “sozinho” na realização da megaoperação.

As declarações de Castro geraram forte repercussão e críticas em Brasília. O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, declarou não ter recebido do Governo do Rio nenhum pedido oficial de ajuda relacionado à megaoperação. Mais tarde, Castro se desmentiu, dizendo ter sido “mal interpretado” ao afirmar que o estado estava “sozinho”.

Dentro do governo Lula (PT), voltou-se a cogitar a decretação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) no estado do Rio de Janeiro, com as Forças Armadas assumindo temporariamente a responsabilidade sobre a segurança pública em território fluminense. Para isso, porém, o Governo do Rio teria de se assumir incapaz de responder pela segurança pública do próprio estado e teria de pedir formalmente ao Governo Federal a aplicação da GLO – cuja decretação, então, seria avaliada pelo presidente da República. O governador fluminense resiste em fazer um tal pedido.

Castro afirmou que as forças policiais do Rio precisavam de ajuda federal na megaoperação com a cessão de blindados, mas que já sabia de antemão que o Governo Federal só disponibilizaria tais veículos mediante decretação da GLO.

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