A morte de um bebê de 35 dias durante atendimento em uma clínica pediátrica no Centro de Vila Velha, na manhã desta segunda-feira (21), será investigada como possível caso de negligência médica. O pai da criança questiona a conduta adotada durante a consulta e afirma que o procedimento realizado pelo médico teria agravado o estado de saúde do bebê.
A criança foi levada ao consultório para uma consulta de rotina, após diagnóstico prévio de refluxo feito por uma médica em Colatina. A família é de Aracruz e procurou o profissional com base em indicações de que ele seria especialista no assunto.
De acordo com o depoimento prestado pelo pai à polícia, o bebê estava chorando, e o médico sugeriu que a mãe o amamentasse. De acordo com o pai da criança, após retirar a roupa da criança para iniciar a avaliação, o médico teria percebido que ela havia evacuado. Na sequência, ainda segundo o pai, o médico segurou o bebê de cabeça para baixo e teria dito: “Vou te ensinar como dar banho em criança”.
O pai relata que o médico então teria levado o bebê até a pia do consultório, aberto a torneira e iniciado a higiene com água fria. Durante o procedimento, de acordo com o pai, a criança começou a chorar e, ao ser colocada na maca, já apresentava coloração roxa e sinais de parada cardíaca.
No momento em que percebeu a gravidade da situação, o pai afirma ter aberto a porta do consultório e pedido ajuda. A atendente da clínica teria ligado para o Samu, que, segundo o relato, demorou de 20 a 25 minutos para chegar. A médica do Samu que atendeu a ocorrência relatou à Polícia Militar que, ao chegar ao consultório, o bebê já estava sem vida nos braços do médico.
Defesa do médico nega versão e diz que procedimento foi técnico
O médico responsável foi conduzido à 2ª Delegacia Regional de Vila Velha para prestar esclarecimentos e, segundo a defesa, foi liberado pela autoridade policial, que entendeu não haver elementos para flagrante no momento.
O advogado do médico afirmou que, em depoimento, o profissional negou a versão apresentada pelos pais. Segundo ele, “não foi esse o procedimento adotado”, ao se referir à acusação de que o bebê teria sido colocado de cabeça para baixo sob a torneira.
A defesa também declarou que todo o atendimento foi registrado por câmeras de segurança do consultório e que as imagens já foram recolhidas pela polícia. Os vídeos devem passar por perícia para ajudar a esclarecer a dinâmica dos fatos.
“Ele colocou à disposição da polícia todo o material da clínica. Foi um atendimento normal. A fatalidade surpreendeu o próprio médico”, disse o advogado.
O advogado acrescentou que, assim que a equipe do Samu chegou, o médico se afastou para atender outro paciente, procedimento que, segundo ele, é padrão quando os paramédicos assumem os cuidados.
CRM-ES e OAB acompanham o caso
O Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM-ES) informou que pode instaurar sindicância de ofício ou por denúncia formal, a depender do desenrolar do caso. Se houver indícios, poderá ser aberto um Processo Ético Profissional. Todos os trâmites são sigilosos.
A OAB-ES também acompanha o caso, já que o pai da criança é advogado inscrito na seccional. Em nota, a presidente Érica Neves manifestou solidariedade à família e afirmou que membros da Ordem estão prestando apoio jurídico e emocional aos pais.
“A dor deste pai advogado é a dor de todas as famílias da advocacia”, disse a nota oficial da entidade.