PF: fraude no INSS seguiu ativa durante gestão Bolsonaro

Mensagens interceptadas mostram que ex-ministro José Carlos Oliveira recebeu valores ilícitos enquanto chefiava o Ministério do Trabalho e Previdência

Por Redação
Sede do INSS/Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

* Com informações do SBT NEWS

A Polícia Federal (PF) afirmou que existem “fortes indícios” de que o esquema de descontos ilegais em aposentadorias e pensões no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) “estava em pleno funcionamento” enquanto José Carlos Oliveira ocupava o cargo de ministro do Trabalho e Previdência no governo de Jair Bolsonaro (PL).

O esquema ilícito era articulado por dirigentes da Confederação Nacional dos Agricultores Familiares (Conafer).

Segundo documento sigiloso sobre a investigação, obtido pelo SBT News, Oliveira, que mudou seu nome para Ahmed Mohamad Oliveira Andrade, era um “pilar institucional” da fraude e tinha atuação considerada decisiva para blindar e sustentar os desvios que, ao longo dos anos, atingiram centenas de milhares de beneficiários.

Imagem da noticia PF diz que esquema de fraude no INSS “estava em pleno funcionamento” na gestão Bolsonaro
O ex-presidente do INSS e ex-ministro do Trabalho e Previdência José Carlos Oliveira (Ahmed Mohamad Oliveira Andrade) | Lula Marques/Agência Brasil

Oliveira foi presidente do INSS entre novembro de 2021 e março de 2022. Depois, assumiu o Ministério do Trabalho e Previdência, onde permaneceu até o fim do governo Bolsonaro.

As investigações indicam que o ex-ministro ocupou posições estratégicas, o que teria dado tranquilidade à organização criminosa para continuar desviando recursos.

“O investigado ocupou os mais altos cargos da administração pública em matéria previdenciária no Brasil, o que permitiu à organização criminosa manter e expandir o esquema de descontos indevidos em benefícios de aposentados e pensionistas”, afirma o documento.

Além disso, os investigadores afirmam que Oliveira agiu para afastar barreiras internas no INSS e garantir que auditorias não interrompessem o fluxo de repasses à Conafer.

As conversas mostram operadores se referindo a ele por codinomes, como “São Paulo” e “Yasser”, sempre em tom de confiança e celebração após decisões que favoreciam o grupo.

Um dos trechos anexados à investigação destaca que o ex-ministro era informado dos valores desviados e que demonstrava interesse direto no fluxo financeiro gerado pelo convênio, funcionando como uma espécie de aval político e administrativo.

Antes de chegar ao ministério, Oliveira atuou como diretor de Benefícios do INSS e, posteriormente, como presidente da autarquia. A PF afirma que, nessas posições, ele tomou decisões que permitiram a retomada e a expansão das fraudes.

Entre os atos citados está a autorização para o desbloqueio de aproximadamente R$ 15,3 milhões em repasses à Conafer, mesmo diante de alertas internos e da ausência de comprovação de filiação dos supostos associados. Essa liberação, segundo a PF, “permitiu que o esquema retomasse e ampliasse os descontos indevidos” sobre aposentadorias e pensões.

A reconstituição dos fatos demonstra que, ao ascender ao cargo de ministro, responsável direto pela supervisão do INSS, Oliveira teria permitido que o grupo operasse com ainda menos resistência interna.

Operação Sem Desconto

Nesta quinta-feira (13), a Polícia Federal deflagrou a quarta fase da Operação Sem Desconto, que mirou o núcleo central responsável pelos descontos irregulares em aposentadorias e pensões do INSS. Ao todo, foram cumpridos 63 mandados de busca e apreensão, 10 prisões preventivas e outras medidas cautelares em 14 estados e no Distrito Federal.

Entre os alvos das prisões preventivas estão:

  • Alessandro Stefanutto, ex-presidente do INSS na gestão Lula (PT);
  • Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho, ex-procurador-geral do INSS, que se apresentou à PF em Curitiba;
  • Thaisa Hoffmann, esposa de Virgílio;
  • Antônio Carlos Antunes Camilo, conhecido como “Careca do INSS”, já detido na Papuda, em Brasília;
  • André Paulo Félix Fidélis, ex-diretor de Benefícios e Relacionamento com o Cidadão do INSS.

Já Oliveira não teve prisão decretada, mas foi alvo de medidas cautelares e deverá usar tornozeleira eletrônica.

Veja também

Privacidade

Para melhorar a sua navegação, nós utilizamos Cookies e tecnologias semelhantes.
Ao continuar navegando, você concorda com tais condições.