
* Por Vitor Vogas
Com os dois pés e em ritmo de pré-campanha, o senador Flávio Bolsonaro (PL) pisou em solo capixaba por volta das 18 horas desta segunda-feira (22), data em que a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) completa um mês. Indicado por seu pai para concorrer à Presidência da República, o senador pelo Rio de Janeiro voou de Brasília a Vitória, ao lado do colega Magno Malta (PL-ES), para participar do evento “Grande Clamor pelo Brasil” – mistura de culto religioso com ato político-eleitoral. Antes, falou com a imprensa, logo após desembarcar no Aeroporto de Vitória. E garantiu: sua candidatura ao Palácio do Planalto é irreversível. “Essa página nós já viramos.”
Chamando Magno Malta de “amigo, líder e professor”, o primogênito de Jair Bolsonaro opinou sobre a eleição para governador do Espírito Santo. Sem citar nenhum nome, ele defendeu que o PL tenha um “palanque completo” na eleição estadual (incluindo candidato a governador, além de Maguinha Malta para o Senado) e antecipou:
“A única certeza que eu tenho é que vamos caminhar com quem sempre caminhou com a gente.”
“Essa é a diretriz aqui, e ainda vamos avaliar qual vai ser o cenário, mas temos tudo aqui para ter um palanque completo para disputar uma eleição em 2026 de forma muito competitiva e dando esperança para o nosso povo aqui no Espírito Santo, que sempre nos carregou nos ombros. Um projeto de país que seja realmente conservador, com princípios de ‘Deus, pátria, família e liberdade’. Temos bons nomes aqui, mas não posso te dar nomes neste momento.”
Evair de Melo
Flávio afirmou que o deputado federal Evair de Melo (PP) sempre será bem-vindo no PL. Bolsonarista convicto e vice-líder do governo na Câmara na administração de Bolsonaro, Evair tem sido sondado para se filiar ao PL. A sigla está em busca de um pré-candidato a governador.
“O Evair é um grande quadro. Gosto muito do trabalho dele. Vamos nos sentar aqui para definir quais as melhores estratégias e quais os melhores nomes. E certamente um quadro como o Evair de Melo sempre vai ser muito bem-vindo no nosso partido”, disse o senador pelo Rio de Janeiro, com indefectível sotaque carioca.
No início deste ano, em entrevista a um podcast amigo, o próprio Jair Bolsonaro citou Evair como um aliado que teria seu apoio na eleição para o Senado no Espírito Santo. Mas isso foi antes de Magno lançar a pré-candidatura da sua filha Maguinha Malta, que acompanhou a comitiva de Flávio em Vitória.
Logo após ser lançado pelo pai, Flávio chegou a dizer, em entrevista, que havia uma condição para que ele se retirasse do páreo: o possível recuo estaria condicionado à aprovação da anistia no Congresso. Poucos dias depois, voltando atrás, declarou que sua pré-candidatura não tinha mais volta. Neste mês, a Câmara dos Deputados e o Senado aprovaram o PL da Dosimetria (que reduz penas para participantes de atos golpistas e da trama golpista, mas não é uma anistia).
Questionado pela coluna, Flávio ratificou que sua candidatura ao Planalto é “definitiva”.
“Essa página nós já viramos. [Minha candidatura] é definitiva, e todo mundo sabe disso, porque aqui no Brasil não tem volta e é para honrar os brasileiros de bem neste país.”
“Bolsonaro moderado”
Desde que foi lançado, Flávio tem se apresentado como um “Bolsonaro moderado”. Ele respondeu o que isso significa na prática:
“Significa ser quem eu sempre fui. Estou há 22 anos na política. Meu perfil sempre foi mais centrado, de equilíbrio, de buscar resolver as coisas de forma prática, para o bem das pessoas. Então é isso que eu vou fazer, e é esse Flávio que as pessoas vão conhecer. Foi a esse Flávio que o presidente Bolsonaro delegou esta missão, porque confia e sabe que estou preparado para isso.”
“Vou me esforçar para ser um governo ainda melhor que o dele. Se tem uma coisa que o presidente Bolsonaro fez muito bem foi escolher um time de pessoas muito capacitadas, preparadas e que fizeram a diferença. Então certamente o que vou buscar fazer é ter um time ainda melhor, se é que isso é possível, que o do nosso eterno presidente, para tocar este país da forma correta. […] Pode ter certeza que serão quadros infinitamente melhores do que os do atual governo.”
Romeu Zema como vice?
Flávio respondeu sobre comentários de que o governador de Minhas Gerais, Romeu Zema (Novo), teria sido sondado para ser candidato a vice-presidente em sua chapa. O senador afirmou que seria uma honra ter o governador mineiro caminhando com ele.
“Desde que lancei meu nome como pré-candidato, falei com todos esses que estavam aí com seu nome também colocado sobre a mesa para disputar uma possível candidatura à Presidência, e sem dúvida nenhuma o Zema é um quadro muito importante, é um governador muito competente, que tem uma boa avaliação. Seria uma grande honra se o Zema caminhasse junto conosco. Não sei em qual posição, se como vice-presidente ou alguma outra função, se é que ele não vai tentar a candidatura a presidente também. Mas estamos no momento de aproximar e de avaliar cenários. E, a partir do final de março e começo de abril, é quando teremos um cenário mais real para tomar as decisões corretas.”
Até o dia 5 de abril, governadores que quiserem disputar outro cargo eletivo (senador, presidente etc.) terão de renunciar, como pode ser o caso de Zema em Minas, Ronaldo Caiado (União) em Goiás, Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo, Ratinho Júnior (PSD) no Paraná etc.

Flávio Bolsonaro com bandeira do Espírito Santo no Aeroporto de Vitória. Foto: Vitor Vogas
A melhor estratégia para a direita
Em visita a Vitória em novembro, tanto Zema quanto Caiado opinaram que, estrategicamente, é interessante que haja muitos candidatos de direita no 1º turno para impedir a reeleição de Lula (PT), uma vez que um deles certamente passará ao 2º turno e então poderá contar com o apoio dos demais. Flávio ainda não está tão convencido dessa tese.
“A gente vai ter uma análise de cenário mais real a partir da primeira semana de abril. […] Então, vamos esperar para ver qual será a melhor estratégia. Fazem muita comparação com o que aconteceu no Chile, onde não houve essa unidade da centro-direita num primeiro momento, mas num segundo momento eles se uniram, e o presidente Kast foi eleito no Chile, uma pessoa de direita. Então não sei se vai ser a mesma estratégia no Brasil, mas todos concordam que, se não houver a possibilidade de caminharmos juntos já no 1º turno, no 2º turno todos nós vamos estar juntos, porque mais uma vez o maior inimigo do Brasil é o Lula, é o PT, e é ele que nós vamos tirar do governo a partir de 2027.”
Eduardo Bolsonaro
Na semana passada, Eduardo Bolsonaro (PL), irmão de Flávio e segundo filho mais velho do ex-presidente Bolsonaro, teve o mandato cassado pela Câmara dos Deputados por excesso de faltas. Nesta segunda-feira (22), a Câmara cancelou o passaporte diplomático do agora ex-deputado por São Paulo.
Em março, Eduardo mudou-se voluntariamente para os Estados Unidos, onde até hoje vive.
Na visão de Flávio, é tudo parte de uma “perseguição política”:
Alexandre de Moraes e Banco Master
Flávio citou reportagens publicadas nesta segunda-feira (22) na imprensa brasileira, segundo as quais Alexandre de Moraes teria procurado pelo menos três vezes o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, para interceder pelo Banco Master, em meio ao escândalo envolvendo o banco, com quem a esposa do ministro tinha um contrato de prestação de serviços como advogada.
“Isso é uma clara ilegalidade. E vamos mais uma vez protocolar o pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, porque é completamente inadmissível que um ministro do STF tenha uma postura como a que ele teve. Vem fazendo tanto mal a tanta gente aqui no Brasil, e agora as evidências vão surgindo de como ele operava além da cadeira de ministro do Supremo. […] Isso abala frontalmente a credibilidade do próprio STF, que é um pilar fundamental da nossa democracia. Isso não pode passar em branco.”
O estado de saúde do pai
Segundo Flávio, na cela especial em que se encontra preso na Superintendência da Polícia Federal em Brasília, Jair Bolsonaro segue sofrendo com recorrentes “crises de soluço”, o que demanda uma cirurgia que precisa ser realizada em breve (mediante autorização judicial).
“Clamamos para que ele possa pelo menos ir para uma prisão domiciliar humanitária, que é o mínimo que se espera para uma pessoa que tem a idade que ele tem, as comorbidades que ele tem e que é uma pessoa inocente.”
O pré-candidato do PL à Presidência ainda falou sobre o evento “Grande Clamor pelo Brasil”, no Espaço Patrick Ribeiro, na área do aeroporto, ao qual foi convidado por Magno Malta.
“Antes do Natal, é uma grande honra, para mim, estar neste estado chamado Espírito Santo para a gente orar pelo nosso país, para a gente pedir a Deus que tenha piedade do nosso povo, que tem sofrido tanto de uns anos para cá, com tantas perseguições, o uso da máquina pública para ir atrás das pessoas que têm uma opinião diferente da do atual governo. […] O povo estava de cabeça baixa, e a gente está com a expectativa de reacender um pouquinho da chama no coração de todo mundo.”





