As autoescolas do Espírito Santo vivem um cenário de forte instabilidade após a adoção do novo modelo de emissão da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), que passou a desobrigar o uso de autoescolas para a obtenção do documento. Segundo José Rios, presidente da Associação das Autoescolas do Espírito Santo, a mudança pode levar ao fechamento de cerca de 50% das empresas do setor e provocar a demissão de muitos funcionários nos próximos meses.
De acordo com Rios, diversas autoescolas já enfrentavam dificuldades financeiras, mas a situação se agravou com o anúncio do novo modelo. Desde então, o número de matrículas caiu de forma significativa, comprometendo a sustentabilidade do negócio.
Atualmente, existem cerca de 260 autoescolas no estado, que cobram, em média, R$ 3.355 para a formação dos condutores em duas categorias. Para ele, as autoescolas são obrigadas a manter estrutura completa, com salas de aula climatizadas para o curso teórico, frota de carros e motos próprios, além de instrutores capacitados e treinados. A necessidade de veículos novos ou seminovos, somada aos custos de manutenção e adequação às exigências legais, elevou ainda mais as despesas operacionais.
Outro ponto criticado pelo presidente da associação é a forma como a mudança foi implementada. Segundo ele, não houve prazo adequado para adaptação das empresas, o que tem levado a demissões e até ao encerramento das atividades de algumas autoescolas. “Com certeza vai haver demissões. Muitas empresas não conseguem resistir a curto prazo”, afirmou.
Rios também demonstra preocupação com a qualidade da formação dos novos condutores. Ele alerta que, com a desobrigação das autoescolas, há relatos de pessoas utilizando veículos particulares para ministrar aulas, sem estrutura adequada ou qualificação técnica, o que já estaria resultando em acidentes. Para ele, a medida pode provocar uma queda significativa na qualidade da habilitação e comprometer a segurança no trânsito.
Embora reconheça a necessidade de flexibilizar regras e discutir a redução do número mínimo de aulas, José Rios defende que a formação profissional não seja descartada. “Minha maior preocupação é substituir instrutores capacitados por qualquer pessoa. A flexibilização precisa acontecer, mas ouvindo a categoria e mantendo critérios mínimos de formação”, destacou.
O presidente acredita que, diante da repercussão e dos impactos no setor, a medida ainda pode ser revista ou ajustada. Enquanto isso, as autoescolas seguem em um cenário de incerteza, sem conseguir prever até onde os efeitos do novo modelo de emissão da CNH irão atingir o setor.
O presidente do Sindicato dos Centros de Formação de Condutores do Espírito Santo (SindautoES), Gabriel Couzi, acredita que toda a sociedade esteja sendo prejudicada. “A formação dos condutores foi significativamente precarizada, o que pode resultar no aumento dos acidentes de trânsito”, destacou.
Ainda assim, ele entende que as pessoas continuarão buscando um ambiente seguro e qualificado para aprender a dirigir, e esse ambiente são as autoescolas. “Os CFCs estão se adaptando às mudanças para atender os alunos da melhor forma possível e seguir cumprindo seu papel fundamental na educação para o trânsito”.
Sobre a possibilidade de fechamento das autoescolas, ele afirmou que ainda é cedo para saber os reais impactos para o setor. “A medida favorece a informalidade. Pode ser que alguns sejam obrigados a seguir esse caminho. Todos os empresários que conversei pretendem seguir. Mas só saberemos isso com o passar do tempo”, afirmou





