MPT do ES vai investigar recrutador que discriminou moradora de Cariacica em seleção de emprego

O Ministério Público do Trabalho no Espírito Santo (MPT-ES) vai investigar o caso da mulher que foi discriminada em uma entrevista de emprego por ser mãe no Espírito Santo. A história de Samara Braga, de 32 anos, teve repercussão nacional, após ela compartilhar a conversa que teve com o recrutador, que debochou e discriminou a moradora de Cariacica.

Na ocasião, o homem se atrasou três horas para a entrevista e foi irônico com a moça que buscava um emprego quando ela pediu para que a conversa fosse remarcada. Samara havia compartilhado o seu currículo em busca de um emprego, uma companhia se interessou e marcou uma entrevista online para as 8h. O recrutador, porém, não apareceu.

Os prints das mensagens mostram que, às 7h51, Samara pede o link da chamada de vídeo ao homem, identificado como Fábio, mas ele não responde. A mulher insiste e, às 8h44, chama o recrutador novamente, sem retorno. Três horas depois do horário marcado, o recrutador liga para Samara e manda uma mensagem pedindo para começarem a entrevista.

A mulher responde e explica que, no momento, estava ocupada e não conseguiria falar. E pergunta se o homem teria disponibilidade no fim do dia. “Tenho muitos compromissos, não consigo”, responde Fábio.

Reprodução

Samara explica que também tinha compromissos naquele momento, três horas depois do combinado. O recrutador então é irônico, e diz: “Posso imaginar a rotina de tantos compromissos de um desempregado”. A mulher rebate e afirma que não é porque está desempregada que precisa ficar disponível o dia inteiro. E explica que, naquele momento, estava se organizando para levar o filho à escola.

“Sempre difícil contratar quem tem filhos mesmo. Uma dica: foque no que quer”, responde o recrutador. A conversa continua até que o homem afirma que ela não era a profissional que a empresa estava buscando.

A publicação em que a mulher mostra essa conversa gerou mais de 26 mil curtidas, 3.800 comentários e 380 compartilhamentos em uma rede social corporativa.

Samara recebeu comentários de apoio e de crítica, além de relatos de pessoas que já passaram pelo mesmo constrangimento. “Fez muito bem em compartilhar o ocorrido, visto que, além de ser um absurdo e intolerável, não é um caso isolado. Até quando nós, mulheres, vamos lidar com dificuldades no mercado de trabalho pelo fato de sermos mães?”, questionou a profissional de marketing Brunelle Souza.

Investigação

Por conta da grande repercussão, o MPT-ES divulgou uma nota sobre o caso e informou que a Coordenadoria Nacional de Promoção da Igualdade de Oportunidades e Eliminação da Discriminação no Trabalho do Ministério Público do Trabalho (COORDIGUALDADE) foi autuada e já distribuída notícia de fato para apurar a situação, e adotar, no âmbito de suas atribuições, as medidas cabíveis.”

Confira a nota na íntegra:

“O combate à discriminação é um dos pilares da agenda do trabalho decente da Organização Internacional do Trabalho (OIT), previsto em vários diplomas internacionais, a exemplo das Convenções nº 100, sobre igualdade de remuneração de homens e mulheres trabalhadoras(es) por trabalho de igual valor, e nº 111, sobre discriminação em matéria de emprego e ocupação.

Na mesma linha, a constituição brasileira enuncia a não discriminação como um valor supremo a ser respeitado por todas as pessoas.

Nesse contexto, a lei 9.029/95 proíbe a “adoção de qualquer prática discriminatória e limitativa para efeito de acesso à relação de trabalho, ou de sua manutenção, por motivo de sexo, origem, raça, cor, estado civil, situação familiar, deficiência, reabilitação profissional, idade, entre outros” (art. 1), sendo que a pessoa que obstar acesso a emprego em infração a essa lei poderá responder com o pagamento de indenização por danos morais e ser investigada pela conduta discriminatória, além da possibilidade de pagamento de multa administrativa e proibição de obter empréstimo ou financiamento junto a instituições financeiras oficiais (art. 3, lei 9.029/95)”.