Michelle Bolsonaro e o voto do público evangélico

Nesta campanha presidencial, iniciada oficialmente nesta terça-feira (16), uma personagem insuspeita surge: a primeira-dama Michelle Bolsonaro, que esteve presente em importantes momentos de decisão política, ainda que discretamente. Seja vetando a aproximação de antigos aliados com os quais não tinha apreço, seja influenciando diretamente a escolha de Ministro da Suprema Corte. Ou ainda apoiando aliada em projeto político que não atenderia diretamente os interesses do marido, como do caso da candidatura de Damares Alves ao Senado, pelo Distrito Federal.

Duas “motociatas” ligadas a eventos religiosos, a “Marcha para Jesus” em Brasília (DF) e Vitória (ES) deram o tom da participação da primeira-dama nos eventos políticos a partir de agora, e essa participação tem se mostrado muito relevante. A fé pauta o discurso político, apresentando o Palácio do Planalto, antes da assunção de Bolsonaro, como “consagrado aos demônios”, e hoje, com ele na presidência, é “consagrado ao Senhor Jesus”.

No comando da campanha de Bolsonaro tem se a impressão de que Michelle apenas manifesta sua fé, mas, segundo pesquisas qualitativas, a primeira-dama é popular entre as mulheres – segmento no qual o Presidente vem enfrentando problemas com a popularidade – atuando fortemente no público evangélico onde Bolsonaro tem avançado.

Segundo o último Censo, evangélicos somam 22% da população. A porcentagem por si não tem potencial de definir a eleição. Então, o porque da busca na atenção dos neopentecostais: devido aos evangélicos votarem em bloco, permitindo influenciar determinados pleitos, sendo certo que a chamada bancada evangélica, composta por representantes de diversas denominações religiosas, está entre as que mais cresceu nas últimas eleições.

A pauta de costumes costuma ter mais aderência entre pentecostais do que entre os católicos, e, no Brasil, é comum a figura do “católico não praticante”, aquele que se declara seguidor da religião, mas não vai à Igreja e nem segue a doutrina. Essa parcela do eleitorado não se atém as questões relativas aos costumes, diferente dos evangélicos.

Inegavelmente Bolsonaro tem a confiança desse segmento evangélico, não apenas pela recomendação de pastores, mas porque, com seus defeitos e qualidades, é identificado como conservador. O Presidente aproveita-se disso para ter aproximação com esse público, citando amiúde versículos ou parábolas bíblicas.

A questão religiosa-messiânica é relevante. Os neopentecostais têm se mobilizado, e a atuação da primeira-dama mostra-se decisiva no resgate desse público para o eleitorado, inaugurando uma nova frente evangélica-feminina na campanha com potencial de influenciar muito as eleições em outubro.