Estudo identifica diferentes padrões de criminalidade na Grande Vitória

A região metropolitana registrou até setembro deste ano 21 roubos e furtos de carros por dia e 255 homicídios até junho, de acordo com a Polícia Militar estadual. Assim como configurados como estilos de crimes diferentes a ocorrência de cada um é mais frequente em espaços diferentes. Uma pesquisa da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) identificou que os crimes contra a pessoa ocorrem mais em bairros periférico, enquanto os contra o patrimônio são registrados em locais nobres.

“Os crimes contra o patrimônio são furtos e roubos de veículo ou de objetos em residência ou condomínio. São considerados crimes contra a pessoa as tentativas e realizações de estupro, homicídio e lesão corporal”, esclarece o pesquisador William Gonçalves.

Por meio do mapeamento e da análise dos dados nos territórios, foi possível identificar os municípios e os bairros de maior ocorrência de determinado crime. O alto índice de crimes contra o patrimônio é identificado em bairros como Campo Grande (Cariacica); Laranjeiras e Região de Carapina (Serra); Centro, Jardim da Penha, Praia do Canto e Camburi (Vitória); Praia da Costa, Centro, Praia de Itapoã, Coqueiral de Itaparica e Glória (Vila Velha).

Foto: divulgação/Ufes/William Gonçalves

Já os crime contra a pessoa acontecem em bairros como Feu Rosa, Vila Nova de Colares, Região de Carapina e Jardim Carapina (Serra); Aparecida, Flexal ll, Nova Rosa da Penha, Castelo Branco (Cariacica); São Pedro, Ilha do Príncipe, Caratoíra e Santo Antônio (Vitória); Vale Encantado, Divino Espírito Santo, Aribiri, Santa Rita, Ataíde, Barramares e Ulisses Guimarães (Vila Velha).

Foto: divulgação/Ufes/William Gonçalves

Toda a pesquisa foi desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGG) da Ufes e é a dissertação de mestrado de Gonçalves. Intitulada Os múltiplos territórios da criminalidade na Região Metropolitana da Grande Vitória – ES (RMGV), o estudo foi orientado pelo professor Carlo Nogueira.

FENÔMENOS SOCIAL

O estudo analisou a taxa dos dois tipo de crimes, que é definida pelo coeficiente de mortalidade a cada mil pessoas, ou seja, corresponde ao número de ocorrências dividido pela população do bairro, e multiplicado por 1.000.  Para a investigação ele cruzou informações territoriais e dados da Secretaria do Estado da Segurança Pública e Defesa Social do Espírito Santo (Sesp) referentes aos crimes contra a pessoa entre 2014 e 2020, e aos crimes contra o patrimônio entre 2018 e 2020. Na pesquisa Gonçalves também considerou os aspectos econômicos, sociais e culturais para analisar o resultado.

“O crime é entendido, dentro da perspectiva usada, como fenômeno social, reiterando que todas essas reflexões vão impactar na dinâmica do crime”, afirmou Gonçalves.

O mestrando ainda localizou uma concentração de delegacias nos locais onde ocorrem crimes contra o patrimônio. A situação acontece ao contrário em bairros que apresentaram um alto índice de crimes contra a pessoa. Gonçalves apontou ainda que esse cenário afetar o número total de ocorrência pelo menor número de locai de registro de casos. “A baixa presença de delegacias onde ocorrem crimes contra a pessoa explica uma subnotificação desse tipo de delito”, ressalta Gonçalves.

URBANIZAÇÃO EXCLUDENTE 

O pesquisador concluiu que a Região Metropolitana da Grande Vitória apresenta um padrão de urbanização excludente e desigual. Isso leva a um processo de segregação social e espacial, como fruto da dinâmica de modernização econômica. A formação de áreas periféricas são consequências desses processos, que provocaram o maior empobrecimento na região, já que os piores índices de criminalidade estão centrados nessas áreas de pobreza.

Foto: divulgação/Ufes/William Gonçalves