A Polícia Federal obteve uma série de áudios de conversas entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e o pastor Silas Malafaia no âmbito do inquérito que indiciou o ex-chefe do Executivo e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por tentar atrapalhar a investigação da trama golpista.
Nos arquivos, Bolsonaro relaciona a taxação com a votação do projeto de anistia, enquanto Malafaia faz críticas ao filho do ex-presidente, que está nos Estados Unidos e admite manter contatos com membros do governo americano.
Taxação e anistia
Em um dos áudios, Bolsonaro afirma que, se a votação da anistia não avançar, não haverá negociação sobre as tarifas de 50% impostas pelos EUA.
“Resolveu a anistia? Resolveu tudo. Não resolveu? Já era”, disse em um dos trechos analisados pela PF. O ex-presidente também ressalta que não pode se expor, conforme sugerido por Malafaia.
O pastor responde que Trump colocou uma “bola quicando” para Bolsonaro e que era o momento de reagir contra sanções aplicadas a ministros e suas famílias. Apesar disso, ressaltou que a anistia seria o “único caminho possível” para derrubar as tarifas.
“A questão não é econômica, você que tem que dizer isso. Eu estou falando, é só pegar meus vídeos e, segunda, falo de novo. Agora, tu quer comparar minha voz com a tua? Dizer que você não tem que falar? Não, não faz isso comigo não”, acrescentou Malafaia.
Eduardo Bolsonaro
Outro ponto discutido é a atuação de Eduardo Bolsonaro. Em um dos principais áudios, Malafaia xinga o parlamentar e diz ter enviado uma mensagem com críticas duras:“A próxima que tu fizer, eu gravo um vídeo e te arrebento”, teria dito.
No mesmo arquivo, o pastor elogia a postura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que, em entrevistas, defendeu a necessidade da anistia.“Mas dá parabéns ao Flávio, tá? Foi certinho, é isso aí. Vou dar parabéns a ele também. A faca e o queijo estão contigo”, afirmou.
Xingamentos
A PF também encontrou, em mensagens de texto, uma conversa acalorada entre Eduardo e o pai. O deputado chamou Bolsonaro de “ingrato”:
“Eu ia deixar de lado a história do Tarcísio, mas graças aos elogios que você fez a mim no Poder360 estou pensando seriamente em dar mais uma porrada nele, pra ver se você aprende. VTNC, seu ingrato do c******!”, escreveu Eduardo.
Segundo a PF, Eduardo buscou autoridades dos EUA para tentar impor sanções a ministros do STF, membros da PGR e da Polícia Federal, com o objetivo de interferir na ação penal e garantir impunidade ao pai. Ele também teria usado redes sociais em inglês para atingir o público internacional e coordenado a divulgação de narrativas favoráveis aos investigados.
Ainda de acordo com o relatório, Eduardo recebeu R$ 2 milhões de Bolsonaro e realizou operações de câmbio e transferências para ocultar a origem do dinheiro.
Silas defende Eduardo
Apesar das críticas, Malafaia também saiu em defesa de Eduardo. Em outro áudio, disse que Bolsonaro errou ao “queimar” o próprio filho: “Você batendo no teu filho, que está fazendo um trabalho junto a autoridades, falando com os principais assessores de Donald Trump, conseguindo produzir isso tudo aí que o Trump está fazendo. Aí você errou, mas errou feio”, declarou.
O pastor acrescentou que “o jogo está sendo jogado” e orientou Bolsonaro a não temer o ministro Alexandre de Moraes, além de atacar a delação de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência.
Gratidão a Trump
Outro trecho mostra Bolsonaro redigindo uma nota de quatro parágrafos elogiando Donald Trump e destacando que a “questão da liberdade está muito acima da questão econômica”.
As mensagens foram enviadas a “Martinho”, identificado como o advogado Martin de Luca, representante das empresas Rumble e Trump Media & Technology.
Bolsonaro também pede orientações sobre como divulgar o texto:“Fiquei muito feliz com o Trump, muita gratidão a ele”, disse.
Entenda o caso
A PF decidiu indiciar Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro por tentativa de interferir na ação penal em que o ex-presidente é réu por tentativa de golpe de Estado.
No relatório final, os investigadores apontaram indícios de crimes de coação no curso do processo (art. 344 do Código Penal) e abolição violenta do Estado Democrático de Direito (art. 359-L).
O documento foi enviado ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, e à Procuradoria-Geral da República (PGR).
Segundo a PF, Eduardo buscou autoridades dos EUA para tentar impor sanções a ministros do STF, membros da PGR e da Polícia Federal, com o objetivo de interferir na ação penal e garantir impunidade ao pai. Ele também teria usado redes sociais em inglês para atingir o público internacional e coordenado a divulgação de narrativas favoráveis aos investigados.
Ainda de acordo com o relatório, Eduardo recebeu R$ 2 milhões de Bolsonaro e realizou operações de câmbio e transferências para ocultar a origem do dinheiro.
Acusações contra Jair Bolsonaro
A PF afirma que o ex-presidente financiou e corroborou as ações do filho. Ele teria descumprido medidas cautelares, mantido comunicação coordenada com aliados para coagir autoridades e até planejado fuga do país.
As investigações também apontam movimentações financeiras atípicas para financiar atividades ilícitas.
“O conjunto de elementos probatórios arrecadados indica que o ex-presidente Jair Bolsonaro atuou deliberadamente, de forma livre e consciente, desde o início de 2025 e, com maior ênfase, nos meses de maio, junho e julho de 2025 — quando se intensificaram as ações de Eduardo Bolsonaro no exterior — com a finalidade de se desfazer dos recursos financeiros que tinha em sua posse imediata, bem como evitar possíveis medidas judiciais que limitassem ou impedissem a consumação do intento criminoso”, escreveu a PF.
Defesas
Nas redes sociais, Eduardo disse que lhe “causa espanto” ser apontado como participante de crime sem que a PF identifique os autores.
Em nota publicada no X (antigo Twitter), classificou a acusação como “delirante” e questionou por que autoridades americanas não foram incluídas:
“Se a tese da PF é de que haveria intenção de influenciar políticas de governo, o poder de decisão não estava em minhas mãos, mas em autoridades americanas, como o presidente Donald Trump, o senador Marco Rubio ou o Secretário do Tesouro Scott Bessent. Por que, então, a PF não os incluiu como autores? Omissão? Falta de coragem?”, escreveu.
Perguntas e respostas
Quais são os principais conteúdos dos áudios obtidos pela Polícia Federal?
A Polícia Federal obteve áudios de conversas entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e o pastor Silas Malafaia, que abordam tentativas de interferir na investigação sobre uma suposta trama golpista. Nos áudios, Bolsonaro discute a relação entre a votação do projeto de anistia e a taxa de 50% imposta pelos EUA, afirmando que a anistia é crucial para a negociação das tarifas.
O que Bolsonaro disse sobre a votação da anistia?
Bolsonaro mencionou que se a votação da anistia não avançar, não haverá negociação sobre as tarifas. Ele afirmou: “Resolveu a anistia? Resolveu tudo. Não resolveu? Já era”. Ele também destacou que não pode se expor, conforme sugerido por Malafaia.
Qual foi a opinião de Silas Malafaia sobre a situação?
Malafaia criticou o filho de Bolsonaro, que está nos EUA, e afirmou que a anistia seria o “único caminho possível” para derrubar as tarifas. Ele também mencionou que Trump havia colocado uma “bola quicando” para Bolsonaro, sugerindo que era o momento de reagir contra sanções.
Como foi a interação entre Eduardo Bolsonaro e Silas Malafaia?
Malafaia expressou descontentamento com Eduardo Bolsonaro, dizendo que enviou uma mensagem com críticas duras e ameaçou gravar um vídeo contra ele. No entanto, ele também elogiou a postura de Flávio Bolsonaro, que defendeu a necessidade da anistia.
O que foi discutido entre Eduardo e Jair Bolsonaro?
Uma conversa acalorada entre Eduardo e Jair Bolsonaro foi revelada, onde Eduardo chamou o pai de “ingrato” e expressou sua frustração. Ele mencionou que estava considerando agir contra Tarcísio, em resposta aos elogios que Bolsonaro fez a ele.
Qual foi a defesa de Malafaia em relação a Eduardo Bolsonaro?
Malafaia defendeu Eduardo, afirmando que Bolsonaro errou ao criticar o filho, que estava trabalhando com autoridades americanas. Ele aconselhou Bolsonaro a não temer o ministro Alexandre de Moraes e a atacar a delação de Mauro Cid.
O que a Polícia Federal concluiu sobre as ações de Jair e Eduardo Bolsonaro?
A Polícia Federal indiciou Jair e Eduardo Bolsonaro por tentativas de interferir em ações penais. O relatório final apontou indícios de crimes de coação e abolição violenta do Estado Democrático de Direito, além de movimentações financeiras atípicas para financiar atividades ilícitas.
Como Eduardo Bolsonaro reagiu às acusações da Polícia Federal?
Eduardo Bolsonaro expressou espanto ao ser apontado como participante de crime sem que a PF identificasse os autores. Ele classificou as acusações como “delirantes” e questionou a omissão de autoridades americanas no relatório da PF.