Cientistas detectam ondas de rádio em subsolo da Antártida

Fenômeno intriga especialistas e desafia teorias atuais da física de partículas

Por R7
Cientistas buscam entender o enigma com novo projeto da pesquisa/Reprodução

O fenômeno foi observado por um experimento chamado ANITA (Antarctic Impulsive Transient Antenna), instalado em balões que sobrevoam o continente e projetados para detectar neutrinos, partículas subatômicas conhecidas por atravessar a matéria quase sem deixar vestígios. Mas, em vez de encontrar esses “fantasmas cósmicos”, os pesquisadores registraram algo que não conseguem explicar.

Os sinais captados não vinham do espaço, como se esperava, mas de ângulos extremamente inclinados sob o gelo, cerca de 30 graus abaixo da superfície. O detalhe mais desconcertante: essas ondas de rádio pareciam emergir do subsolo como se ignorassem as leis da física conhecidas, ao invés de serem reflexos ou provenientes de interações previsíveis.

A física de partículas atual, baseada no modelo padrão, não fornece respostas convincentes. Esse modelo descreve as forças fundamentais e partículas que compõem o universo, mas não contempla o que foi observado no experimento. “Ainda não sabemos o que são essas anomalias”, admitiu a astrofísica Stephanie Wissel, da Universidade Estadual da Pensilvânia, uma das cientistas envolvidas no projeto.

Neutrinos

Os neutrinos são partículas abundantes, geradas por eventos extremos como o Big Bang ou supernovas. Apesar de atravessarem a Terra com facilidade, sua detecção é raríssima, exatamente porque quase não interagem com a matéria. Por isso, ao captar um deles, os cientistas acreditam estar “ouvindo” ecos do início do universo. A missão da ANITA era justamente flagrar esses raros eventos, usando balões equipados com antenas flutuando entre 30 e 39 km de altitude.

Mas os sinais detectados não se comportavam como deveriam. Um deles, registrado já em 2006, parecia surgir de dentro da Terra, não refletido da superfície. Em 2014, uma segunda detecção semelhante reforçou o mistério. E nenhuma delas pôde ser relacionada a supernovas conhecidas, o que poderia ao menos oferecer uma pista de origem.

Para descartar explicações mais convencionais, os cientistas compararam os dados da ANITA com os de outros dois importantes observatórios de partículas: o IceCube, também localizado na Antártida, e o Pierre Auger, na Argentina. Após extensas simulações, não encontraram qualquer evento compatível com os sinais captados por ANITA.

Ondas de rádio foram captadas do solo gelado da Antartida/Reprodução

Interação desconhecida: propagação de rádio

Isso levou os especialistas a especularem que podem estar diante de um tipo de partícula ou interação ainda desconhecida. Uma das hipóteses mais ousadas menciona a possível influência da matéria escura — uma forma invisível de matéria que compõe boa parte do universo, mas cuja existência ainda carece de comprovação direta.

Ainda assim, nem mesmo essa possibilidade explica como os sinais teriam cruzado milhares de quilômetros de rocha e gelo até alcançar os balões sem serem completamente absorvidos. “Pode haver algum efeito de propagação de rádio próximo ao gelo que ainda não compreendemos”, sugeriu Wissel, enfatizando que o mistério permanece aberto.

Com o encerramento das operações da ANITA em 2016, a esperança de desvendar o enigma agora repousa sobre o PUEO (Payload for Ultrahigh Energy Observations), um experimento sucessor com maior sensibilidade e tecnologia mais avançada, que deve começar a operar em breve.

Os últimos resultados de pesquisas com o ANITA foram publicados recentemente na revista Physical Review Letters.

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