Casagrande: “Irei com Ricardo até o fim. A decisão é final”

Segundo governador, seu apoio a Ricardo para o governo “está à prova de tudo aquilo que está sob o nosso controle”. Vice-governador completa: “Só Deus tira o meu propósito de suceder o governador Casagrande”

Por ES360
Casagrande cumprimenta Ricardo Ferraço no dia do anúncio (18/12/2025). Foto: Cid Costa

*por Vítor Vogas

Após a entrevista coletiva, no Salão Nobre do Palácio Anchieta, na qual o governador Renato Casagrande (PSB) anunciou Ricardo Ferraço (MDB) como seu pré-candidato à sucessão, ambos me receberam no gabinete do governador e, numa entrevista de 15 minutos, responderam a todas as minhas perguntas.

Segundo governador, seu apoio a Ricardo para o governo em 2026 é uma decisão definitiva e irrevogável, à prova de eventuais mudanças de conjuntura nos próximos meses e de desempenho em futuras pesquisas eleitorais. “Está à prova de tudo aquilo que está sob o nosso controle”. O próprio vice-governador completa: “Só Deus tira o meu propósito de suceder o governador Casagrande.”

O governador também responde se ele pode tentar voltar ao Palácio Anchieta em 2030 e como fica agora o relacionamento político com o prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo, aliado que não descarta também disputar o governo, pelo PSDB, mesmo sem o apoio de Casagrande. Também abordamos potenciais adversários e a busca de novos aliados.

Boa leitura!

O senhor irá até o fim com o Ricardo?

Casagrande: Sim. Até o fim. Foi um processo que amadureci durante o ano todo. Dos nomes que nós colocamos no início do ano, como possíveis nomes, alguns disseram que o projeto não era esse, outros caminharam com outro projeto, outros não querem disputar a eleição. E o processo foi de amadurecimento, de consulta, análise, envolvimento do Ricardo dentro do governo, nos projetos do governo, no resultado do governo, e chegamos a essa conclusão. O desejo, de fato, era a gente ter esse pré-candidato, anunciar esse nome, após uma reflexão que envolveu muita gente, sabendo que o processo eleitoral vai se definir mesmo no mês de julho do ano que vem, mas que era necessário, então, a gente poder chegar a essa conclusão a que chegamos. E ela é definitiva, sempre que Deus não nos mande nenhuma outra mensagem. Mas, a depender de nós aqui, é definitiva.

Decisão final? Irrevogável?

Casagrande: Isso aí.

Está à prova de eventuais mudanças de conjuntura?

Casagrande: Sim, sim.

À prova de desempenho em futuras pesquisas eleitorais?

Casagrande:

“É lógico! Está à prova de tudo, daquilo que está sob o nosso controle.”

Um governo bem avaliado como o nosso tem, na minha avaliação, na hora que começar a campanha, condições de discutir bem com a sociedade o nome que nós estamos apresentando. E o nome do Ricardo é um nome que conhece o Estado, que conhece as lideranças, que se tornará conhecido para quem não o conhece ainda, numa campanha eleitoral, já disputou eleições importantes, teve vitórias robustas, como para o Senado, por exemplo, para deputado federal. Então, na minha avaliação, nas variáveis que estão sob o nosso controle, não tem nenhuma razão de se alterar.

O que pode fugir do controle?

Casagrande: Ele não querer ser candidato.

Então, passo para o vice-governador. Alguma possibilidade?

Ricardo:

“Só Deus tira o meu propósito de suceder o governador Casagrande e dar continuidade àquilo que nós estamos fazendo. É isso.”

Casagrande: É uma coisa que está fora do nosso controle.

Ricardo: Do ponto de vista do Ricardo Ferraço, é brilho nos olhos, para poder debater o Espírito Santo.

Certo, devolvo para o governador. O senhor aposta, então, numa operação de transfusão de capital político, do senhor para o Ricardo, do seu governo para a campanha de Ricardo? Quer dizer, o senhor acredita numa capacidade de transferência integral, ou pelo menos considerável, dos seus bons índices atuais de aprovação e popularidade?

Casagrande: Eu não gosto da palavra “transfusão”. Não gosto. Acho que “transfusão” significa você colocar uma energia em quem não tem energia. Eu estou acreditando muito que as pessoas verão no Ricardo a segurança que elas precisam ter para que a gente possa dar sequência àquilo que a gente está fazendo, de um governo super bem avaliado, e ainda melhorar, e ainda avançar um pouco mais, continuando com esse nível de organização que nós temos. Então, a minha crença é que as pessoas verão no Ricardo essa segurança e essa confiança que nós precisamos ter para continuar esse processo de transformação do Estado que se iniciou. Essa transformação está no início, ela não está se concluindo.

“Então, sendo vitorioso no processo eleitoral, Ricardo fará um governo que consolidará uma transição política no Estado do Espírito Santo.”

Agora, essa estratégia de vocês, liderada pelo senhor, não terá mais chances de ser bem-sucedida se o senhor passar o bastão para o Ricardo em abril do ano que vem? Na entrevista coletiva de há pouco, o senhor me disse ainda não ter decidido se será candidato ao Senado. Mas volto a esse ponto, até porque o senhor mesmo acaba de dizer que o Ricardo se tornará mais conhecido durante a campanha. Ele, evidentemente, não terá maiores possibilidades de se tornar mais conhecido e mais aceito e aprovado como governador?

Casagrande: Olha, essa hipótese, eu não descartei ela hora nenhuma. Só não disse que ela está decidida, porque eu preciso de tempo. Do mesmo jeito que eu fiz consultas e cheguei a uma conclusão coletiva com relação ao Ricardo, eu tenho, agora, janeiro, fevereiro e março, para fazer com relação à candidatura ao Senado. Então, eu não gosto de decidir as coisas sem estar convicto delas. Eu preciso estar convicto daquilo que eu decidir. Então, essa é uma hipótese. Se eu ficar no governo, a campanha tornará o Ricardo conhecido e também tudo aquilo que ele fez e faz dentro do governo. Se eu for candidato, ele assumirá o governo e, de fato, no governo, poderá também se tornar conhecido. Então, acho que os dois caminhos são caminhos que darão a visibilidade necessária ao Ricardo.

O que, a esta altura do campeonato, ainda pode fazê-lo optar por ficar no governo e decidir não ser candidato a senador? Eu vou ser ainda mais direto: é só uma estratégia mesmo para deixar para fazer esse anúncio no limite do prazo legal para não começar, entre aspas, a “servir café frio” aqui, como se diz no jargão político?

Casagrande: Não, é porque eu gosto de decidir as coisas no tempo certo. Eu não gosto de decidir as coisas no tempo errado. Acho que a política tem o tempo certo de decidir. E o tempo certo de eu tomar minha decisão não é agora.

E o que poderia fazê-lo, insisto, não ser candidato a senador?

Casagrande: Não sei. Não sei o que poderia fazer. Mas, como eu não estou decidido ainda, não parei para pensar sobre isso. Prefiro usar do tempo que a legislação me dá.

Um nome que precisa ser trazido a esta conversa é o do prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo. Onde é que ele se encaixa hoje no projeto de vocês, liderado pelo senhor?

Casagrande: Ele se encaixa de acordo com as conversas que a gente vai ter. Neste momento, ele quer fazer um movimento de tentar viabilizar a sua candidatura. Então, também, de forma muito respeitosa, nós temos que dar a ele o tempo que ele deseja. Ele será sempre bem-vindo ao projeto que eu estou liderando. Se ele estiver no projeto, ele tem que sentar na mesa para a gente conversar. Mas não cabe agora a gente especular sobre uma decisão que ele tomou de tentar viabilizar uma pré-candidatura. Então, tem que dar tempo a ele.

Ameaça a unidade do grupo e do projeto?

Casagrande: Não, não. Não ameaça a unidade do grupo, porque nós estamos com pontes, nós estamos conversando com Arnaldinho. Eu estou conversando com Arnaldinho. Arnaldinho não está fora do grupo. Vamos ver o que vai acontecer na hora que ele vai ter que se desincompatibilizar.

“Se ele tomar uma decisão de seguir em frente com uma candidatura a governador, terá o nosso respeito, mas não é o nosso projeto. Nosso projeto está aqui, já colocado.”

O senhor trabalha para que Arnaldinho seja candidato a vice-governador na chapa encabeçada pelo Ricardo?

Casagrande: Não, não. Não trabalho. O que eu trabalho agora é compreender aquilo que Arnaldinho quer fazer. Eu trabalhei com Arnaldinho, trabalho com ele até agora. Desde quando ele assumiu o governo, nós somos um parceiro muito forte. A gente conseguiu fazer uma parceria muito forte em Vila Velha. Temos muitos investimentos em Vila Velha.

“Ele sabe da minha posição. Eu informei a ele da minha posição, para ele não saber pela imprensa, não saber por outra pessoa.”

Então, eu informei ele da minha decisão, por que eu tomei essa decisão. E, naturalmente, tenho que dar a ele agora o tempo que ele precisa. E vou sempre trabalhar para que ele possa estar junto conosco.

Vou passar aqui para o Ricardo. O que o senhor acha dessa ideia de uma eventual chapa com o Arnaldinho Borgo encabeçada pelo senhor? Como o senhor avalia?

Ricardo: Eu não gosto da especulação com essa tese ou com esse formato. Qualquer que seja a decisão do prefeito Arnaldinho Borgo, terá o meu respeito. E a gente precisa respeitar, por dever, a decisão dos nossos semelhantes. Mas o Arnaldinho Borgo é parte de um movimento, de um projeto político liderado pelo governador Casagrande.

“E o meu desejo é que Arnaldinho possa estar com a gente. Ele vai ser sempre muito, muito bem-vindo a esse projeto.”

Vice-governador, quando apuro cenários, escuto pessoas e consulto várias fontes sobre o senhor, sobre os prós e contras de sua pré-candidatura, surgem vários dos adjetivos que inclusive o governador acabou de enumerar ali na coletiva de imprensa: decente, preparado, experiente, trabalhador, profundo conhecedor da máquina, íntegro, etc. Mas surgem quase sempre também duas ressalvas. Primeiro, falta de carisma ou de simpatia. E segundo, idade, por causa daquela tese da mudança necessária de ciclo geracional e que o eleitorado priorizaria agora um candidato mais jovem, oxigenação política etc. O que o senhor pensa sobre isso e como trabalhar para compensar esses dois pontos?

Ricardo: Olha, eu sou uma pessoa forjada na política. Eu fui deputado estadual dos mais votados. Fui deputado federal, fui o mais votado. Eu sou atualmente o político mais votado da história do Espirito Santo. Eu sou testado no movimento e na mobilização popular da vida pública e da vida política. As evidências de minha trajetória mostram o contrário. Mas é óbvio: nem eu nem ninguém é unanimidade na política. Agora, como é que você, sem ter esses atributos, consegue ser o político mais votado da história do Espírito Santo?

Sim, para senador em 2010, correto?

Ricardo: Exatamente. Eu acho que essa pergunta sua nos remete a uma questão mais profunda. O que é ser jovem? Eu vou lembrar o Ulysses Guimarães: “Sou velho, mas não sou velhaco”. Ou seja, o sentimento que eu recolho nas ruas do Espírito Santo é de continuidade. É de uma avaliação de que o Estado está cada dia melhor. Obviamente que continuidade implica em você fazer ajustes, aperfeiçoamentos, porque a demanda da sociedade é dinâmica. Então, o sentimento que eu recolho no Espírito Santo é um reconhecimento ao esforço que está sendo feito para o Estado ir cada dia melhor, para manutenção e aprofundamento de políticas que são muito importantes, como as políticas desenvolvidas para a área de segurança pública, para a área de educação e tantas outras. Não são teses. São evidências. São resultados objetivos.

“Então, eu tenho não apenas compromisso com a defesa desse legado, mas com a manutenção desse rumo e acho que a gente pode incorporar até um ritmo melhor.”

Por quê? Porque o Estado está estruturado, está organizado. A máquina está azeitada. É dar continuidade às políticas que estão dando certo.

Devolvo a bola para o governador: o senhor pode voltar em 2030?

Casagrande: Voltar para onde?

Para cá. Para essa cadeira.

(Ele e Ricardo riem)

Passa pela sua cabeça?

Casagrande: Não, não. Em hipótese alguma. Tendo sucesso a eleição do Ricardo, acho que nós estamos concluindo aqui um processo de transição mesmo. Com a energia que o Ricardo tem, com a disposição, com a saúde que ele tem, com a determinação do trabalho que ele tem, pelo conhecimento que ele tem do Estado, ele pode fazer, de fato, um processo de transição política importante e seguro. E seguro. A gente tem que fazer a transição segura. E a renovação política é a capacidade que a gente tem de mudar todos os dias. Tem gente jovem que tem um comportamento muito ultrapassado e tem gente de mais idade que tem um comportamento mais moderno. Então, acho que o Ricardo pode cumprir essa tarefa de forma muito exitosa, por tudo aquilo que ele já conhece, tudo aquilo que ele vive hoje no Governo do Estado do Espírito Santo.

“Meu caminho, se eu for candidato a alguma coisa, é seguir com a minha tarefa, se tiver sucesso na eleição. Se não, eu tenho que cuidar de outras coisas na minha vida.”

Quando nós pensamos nas principais forças partidárias aqui no Espírito Santo, tem algumas que ainda estão meio dispersas, voando por aí, e todo mundo está tentando pegá-las no ar. Eu me refiro principalmente ao PSD, presidido no Estado pelo Renzo Vasconcelos, e à União Progressista, federação do PP com o União Brasil, liderada pelo Da Vitória. Agora, com o Ricardo anunciado oficialmente, como é que está o diálogo com essas duas forças? Vocês vão fazer um esforço ainda maior para atrair para o projeto esses dois partidos tão grandes e importantes?

Casagrande: Com a federação, a gente tem muito mais proximidade, dando naturalmente o tempo que o Da Vitória vai precisar para as suas reflexões, para as suas conversas internas na federação. Naturalmente ele tem o direito de fazer essa reflexão. O Marcelo [Santos] está mais próximo do projeto, já discutindo mais abertamente conosco. Temos plena convicção de que nós vamos estar juntos e vamos dar o tempo necessário que eles precisarem para a gente poder estar juntos nesse movimento. Quanto ao PSD, a gente tem uma conversa boa com o Renzo, mas a conversa com o Renzo é muito mais institucional e administrativa, porque o PSD não está diretamente discutindo conosco o projeto eleitoral e político. Então, também respeito a eles, estamos sempre abertos ao diálogo com qualquer liderança do Estado, mas sem uma proximidade como a gente tem hoje com a federação.

Quem é o principal adversário hoje do seu projeto? Pazolini ou Paulo Hartung?

Casagrande: Não, não tem o principal adversário, não. Acho que nosso principal aliado é aquilo que a gente está construindo e o resultado do governo. O adversário a gente não vai escolher. A gente vai estar bem para disputar a eleição lá na frente, tendo o resultado bom do governo como a gente está tendo.

Veja também

Privacidade

Para melhorar a sua navegação, nós utilizamos Cookies e tecnologias semelhantes.
Ao continuar navegando, você concorda com tais condições.