Capixabas empreendedoras: a energia da superação e para transformar comunidades

A palavra empreender ganhou incontáveis significados para a vida de pessoas que procuram sair do desemprego, do desamparo, e até mesmo da violência. De fato, o significado na língua portuguesa mostra que empreender é a “decisão de realizar” ou “pôr em execução”. Dentro do universo feminino, sujeito à violência doméstica, renda financeira baixa e pouca escolaridade, a “decisão de realizar” acaba sendo o início da transformação definitiva da vida dela. A região da Grande Vitória certamente tem milhares de histórias que podem ilustrar isso, e a maioria delas seguirão anônimas. Menos as trajetórias de Elismarcia Nascimento e de Lily Martins.

“Empreender me deu uma outra visão, foi como se eu tivesse me libertado e tivesse um olhar diferente de mim mesma, de poder sonhar novamente”. A frase é uma apresentação da superação que Elismarcia consegue demonstrar hoje. Ela é trancista em Vitória, moradora de uma comunidade que sofre com problemas de desigualdade social, e mesmo assim, uma referência para seus vizinhos por encarado o empreendedorismo como a janela de oportunidade de transformação.

Elismarcia conta que sempre foi acostumada a usar tranças e, como forma de economizar, começou a fazer o penteado em si. E isso atraiu também o interesse das pessoas que conviviam com ela no bairro Estrelinha – e aí ela encontrou pistas para transformar uma necessidade em negócio.

“O pessoal do meu bairro olhava meu cabelo, gostava e começaram a perguntar quem fazia. E aí comecei a fazer em uns e outros que foram passando para frente, a ter eu ter minha clientela”, revelou.

A transformação que o empreendedorismo acaba provocando na vida de mulheres em comunidades periféricas é imensurável. Além de Elismarcia, as tranças também entrelaçaram a história de Lily Martins: moradora de Santo Antônio, também na capital do Espírito Santo, e vítima de um relacionamento abusivo. Com a forma de fazer o penteado, ela começou a empreender aos 17 anos e ainda precisava inserir o desafio junto com os cuidados de um filho pequeno, sem apoio familiar. Precisava de prover o sustento da casa e usou as tranças para isso.

O resultado da sua iniciativa começou a aparecer quando fez uma trança na irmã e o trabalho dela foi visto por uma outra pessoa da região que pediu o contato de quem fez o penteado. “A partir dela muitas pessoas vieram buscar meu serviço”. E com isso a janela de oportunidade estava aberta para ela.

Com demanda crescente, Lily se especializou em tranças e megahair, além de buscar um curso de  Marketing Digital para impulsionar seu serviço. Atualmente, ela ajuda outras microempreendedoras a inovarem dentro de suas possibilidades. Além disso, no bairro, ela oferece cursos de costura e busca ser inspiração para outras mulheres, principalmente quando leva a frente as lições de autoestima e amor próprio que aprimorou desde antes da maioridade.

“Empreender me ajudou muito. Já paguei faculdade pro meu filho, comprei um carro, sou MEI e quero ainda mais dar um conforto melhor para minha família”, declarou.

Mesmo que diversas histórias como as de Lily e Elismarcia sejam transformadoras em suas regiões, podemos lembrar que muitas outras não chegam a público. Mas o Sebrae acompanha números que retratam essa participação feminina quando pensamos na população empreendedora.  No Espírito Santo, mais de 37% do empresariado é composto por mulheres, segundo a instituição.

E nem é preciso pensar apenas em quem se lança em negócios próprios, mas o conjunto deles cria um circuito econômico mais forte em regiões fora dos maiores eixos comerciais.

“Quando você atua em condições, digamos assim, em um bairro ou de forma periférica. Você na verdade fortalece aquela região, gera emprego, gera uma referência aquela região, fortalece pessoas. Quando a gente fala ‘comprem do pequeno’, a gente está favorecendo negócios locais”, afirma a analista do Sebrae, Renata Braga.

Uma a uma, são essas empresárias que colocaram o Espírito Santo entre os que mais reúnem mulheres a frente de seus negócios: é o estado em terceiro lugar com mais empreendedoras no país, conforme atesta números da pesquisa do Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

Lily e Elismarcia empreendem. Lily e Elismarcia transformam vidas.