Regina Duarte assume a Cinemateca Brasileira em meio à maior crise. No fim de semana, a Cinemateca divulgou documento pedindo socorro. Sua situação é crítica. Ex-diretor da instituição e seu eterno guardião, Carlos Augusto Calil, da ECA-USP, levanta a questão de que Regina Duarte não pode assumir porque não existem cargos. O que ela poderia fazer, na visão dele, é trazer dinheiro de Brasília para resolver o imbróglio.
O documento é esclarecedor. Maior arquivo de filmes do País, cuja trajetória é reconhecida internacionalmente, a Cinemateca enfrenta uma situação limite, esclarece o pedido de socorro. “Em meados de maio e não recebeu ainda nenhuma parcela do orçamento anual, cujo montante é da ordem de R$ 12 milhões.”
Ele prossegue: “Após sofrer uma intervenção do Ministério da Cultura em 2013, que destituiu sua diretoria e retirou-lhe a autonomia operacional, vem enfrentando um processo contínuo de enfraquecimento institucional que culmina na atual ameaça de total paralisia”, diz Calil.
A Cinemateca tem sob sua guarda o maior acervo audiovisual da América do Sul, cuja preservação demanda cuidados permanentes de técnicos especializados e manutenção de estritos parâmetros de conservação em baixa temperatura e umidade relativa.
“Estão sob sua custódia coleções públicas e privadas que constituem a memória audiovisual do País. Além do seu intrínseco valor cultural, as obras dos produtores nacionais agregam valor econômico; são fonte de renda industrial que mantém a dinâmica do setor. A ameaça que paira sobre a Cinemateca não é a destruição de valores apenas simbólicos, mas igualmente tangíveis”, complementa Calil.
O contrato do governo federal com a organização social que a administra – Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (ACERP) – foi encerrado por iniciativa do MEC. A atual Secretaria Especial da Cultura, responsável pela Cinemateca, tem seus vínculos administrativos divididos entre os ministérios da Cidadania e do Turismo.
“Essa situação esquizofrênica dificulta a atuação do governo com a urgência necessária para impedir a falência da Cinemateca, enquanto a administração pública se dedica a desenhar uma solução de longo prazo.”
O documento afirma que o descaso da Secretaria do Audiovisual do extinto Ministério da Cultura para com a Cinemateca acarretou o incêndio de fevereiro de 2016 – o quarto sofrido pela instituição em sua história – em que se perderam definitivamente mil rolos de filmes antigos. O documento ganhou adesões importantes e já repercutiu internacionalmente em importantes publicações europeias.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.