O gengibre capixaba, que há décadas sai de Santa Leopoldina rumo ao exterior, agora começa a ganhar um novo destino: as prateleiras de produtos artesanais e bebidas regionais.
Na cidade que lidera a produção nacional do rizoma – caule subterrâneo usado como raiz aromática -, pequenos produtores estão transformando a tradição agrícola em novos negócios e experiências de consumo, impulsionando uma cadeia que vai muito além da exportação da raiz in natura.
Esse movimento marca uma virada na economia rural do município, com a entrada de agroindústrias legalizadas, produtos de marca própria e o apoio técnico do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper).
Primeira agroindústria de bebida à base de gengibre
O primeiro fruto desse novo ciclo é a Gengibre.Bom, que acaba de conquistar o registro federal do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) — um marco para a região.
Com a certificação, o empreendimento pode produzir e comercializar uma bebida alcoólica mista que leva gengibre como ingrediente principal, resultado de uma receita criada nas confraternizações familiares de Genedir Inês Rasselli Novelli e aprimorada pelo filho, Jeferson Novelli, e pela nora, Jaqueline.
“Foi um processo longo, cheio de aprendizados. Ver o registro sair é como ver um sonho engarrafado”, conta Jeferson. Ele explica que a ideia nasceu durante a pandemia, quando a produção artesanal começou a ganhar corpo e mercado na Grande Vitória.
O gengibre nos biscoitos capixabas
Outro exemplo dessa transformação vem de Roziene Luzia Nagel, que decidiu resgatar receitas da infância e adaptá-las para incluir o gengibre como estrela.
Ela começou produzindo biscoitos com gengibre em casa, em pequena escala, e hoje está em fase de regularização junto ao Serviço de Inspeção Municipal (SIM), com o apoio do Incaper.
“O gengibre virou parte da minha história. Fiz um curso sobre derivados e guardei a receita por anos. Quando testei, foi um sucesso”, lembra.
Roziene vende em feiras e eventos na Grande Vitória e planeja ampliar a produção. “O próximo passo é ter uma agroindústria formalizada. Quero levar o sabor de Santa Leopoldina para mais pessoas”, diz.
Economia que cresce e cria identidade
O Espírito Santo é responsável por cerca de 75% de toda a produção nacional de gengibre — 77,7 mil toneladas colhidas em 2024 — e movimentou mais de R$ 317 milhões nas propriedades capixabas. Só as exportações geraram US$ 45 milhões, segundo dados do Incaper.
Para o extensionista Galderes Magalhães de Oliveira, coordenador regional do Instituto, o avanço das agroindústrias representa uma nova etapa da cultura. “Essas iniciativas mostram que o gengibre pode ir além da exportação, criando produtos diferenciados, empregos e novas fontes de renda no interior”, afirma.
Da lavoura à experiência turística
O gengibre deixou de ser apenas uma raiz forte — está se tornando símbolo cultural e gastronômico de Santa Leopoldina.
Além de bebidas e biscoitos, o ingrediente começa a inspirar novos produtos, como geleias, chás e cosméticos, e a movimentar o turismo de experiência, com visitas, degustações e rotas rurais.
“Mais do que um produto agrícola, o gengibre ajuda a contar a história do território e a aproximar o consumidor do campo”, reforça Galderes. “Nosso papel é apoiar o produtor para que ganhe autonomia e se torne exemplo para outros.”