A Polícia Civil concluiu o inquérito que apurava a morte do professor de jiu-jitsu Thiago Louzada Charpinel Goulart, de 43 anos. Segundo as investigações, a ex-sogra da vítima, Vanda de Oliveira Rosa, de 54 anos, foi a mandante do crime. O motivo seria a disputa pela guarda da neta, filha de Thiago com a filha de Vanda, falecida em 2018.
De acordo com o delegado Rodrigo Sandi Mori, chefe da Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Serra, Vanda teria acionado o chefe do tráfico de drogas no bairro Vila Nova de Colares, na Serra, alegando que Thiago abusava sexualmente da filha. A denúncia, segundo a polícia, era falsa e serviu como justificativa para encomendar o assassinato.
Além de Vanda, outras três pessoas foram presas por envolvimento no crime: Luiz Fernando Moreira Souza, 30 anos, apontado como chefe do tráfico da região; William Santos Pereira, 29, responsável por identificar a vítima no dia do crime; e Higor Reis de Jesus, 30, executor dos disparos.
Conflito familiar
Thiago iniciou o relacionamento com a mãe da criança em 2018. O casal sabia que não poderia engravidar, já que a mulher tinha histórico de pré-eclâmpsia. Apesar disso, a gravidez ocorreu, e a mãe faleceu dias após o parto. Desde então, a criança ficou sob os cuidados da avó materna, Vanda.
“A criança ficou sob a guarda da avó materna, mãe da mulher que havia falecido, mas sempre manteve contato com o pai, que sempre demonstrou carinho pela filha. Ela nunca foi órfã de pai, embora os cuidados diários tenham ficado a cargo da avó. Isso já gerava uma certa mágoa em Vanda, pois ela acreditava que a culpa pela morte da filha era de Thiago”, explicou o delegado.
Segundo Rodrigo, a relação entre Thiago e Vanda era marcada por conflitos. O pai demonstrava incômodo com a forma como a avó educava a menina, permitindo, por exemplo, o uso de maquiagem, salto alto e a reprodução de danças inapropriadas nas redes sociais, mesmo com a criança tendo apenas seis anos. A tensão aumentou quando Thiago manifestou interesse em assumir definitivamente a guarda da filha.
“O estopim foi o pedido de guarda. Quinze dias antes do crime, ela foi até o chefe do tráfico do bairro Vila Nova de Colares e afirmou que a neta estava sendo abusada sexualmente pelo pai”, explicou.
A dinâmica do crime
Na noite do crime, por volta das 20h54, Vanda tentou ligar para Thiago, que não atendeu. Em seguida, mandou uma mensagem dizendo que a neta queria falar com o pai. Thiago respondeu imediatamente e perguntou se poderia passar a noite com a filha, levando-a no dia seguinte à casa de uma tia.
“Nesse momento, Thiago liga para o celular de Vanda. A criança atende e convida o pai para ir até o local. Ele era extremamente apaixonado pela filha e não tinha o hábito de sair à noite, especialmente para ir até Vila Nova de Colares. Mas o chamado da filha o levou a ir até lá”, explicou o delegado.
Segundo as investigações, Vanda foi até uma distribuidora localizada na mesma calçada do local do crime e avisou a Luiz Fernando que Thiago estava a caminho. Às 22h, a vítima chegou ao local e foi recebida pela filha, por Vanda e pela irmã dela. A avó pediu que a menina entrasse em casa para trocar de roupa, momento em que Luiz Fernando acionou Higor e William.
“Os dois vão até o local a bordo de uma motocicleta, uma CB250. Eles param na esquina. Higor desembarca, vestido com um uniforme de empresa, se aproxima da vítima pelas costas e efetua quatro disparos de arma de fogo na cabeça da vítma, que vai a óbito no local”, contou.
Prisões e acusações
Higor foi o primeiro a ser preso. Segundo a polícia, ele é considerado extremamente perigoso e já responde por outro homicídio ocorrido também em Vila Nova de Colares. William foi preso em 9 de julho, acusado de transportar Higor e dar fuga após o crime.
Em 19 de julho, Luiz Fernando foi localizado e preso em casa. Durante a ação, a polícia apreendeu R$ 14 mil em dinheiro, uma pistola calibre .380 com mira laser e anotações relacionadas ao tráfico de drogas. Vanda foi detida no dia 21 de julho, no bairro Jardim Camburi.
A criança foi encaminhada à Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, onde recebeu atendimento de assistente social. Em depoimento, relatou que tinha boa convivência com o pai e que a avó havia prometido uma caixa de bombons caso ela ligasse para Thiago pedindo que fosse até o local.
Todos os quatro investigados foram indiciados por homicídio qualificado, com agravantes de motivo torpe e impossibilidade de defesa da vítima. Luiz Fernando, William e Higor também foram indiciados por associação ao tráfico de drogas, com aumento de pena pelo uso de arma de fogo, já que a participação deles na organização criminosa foi confirmada por mensagens encontradas nos celulares.
Atualmente, a guarda da criança está com os avós paternos.