O anúncio feito ontem (9) pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras a partir de 1º de agosto de 2025, acendeu um alerta vermelho entre empresários capixabas. Com forte vocação exportadora e dependência significativa do mercado norte-americano, o Espírito Santo figura entre os estados que podem ser afetados pela medida, que Trump justificou como resposta a “práticas comerciais desleais” do Brasil e supostos ataques à liberdade de expressão.
A carta divulgada por Trump, repleta de críticas ao Supremo Tribunal Federal brasileiro e em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro — a quem chamou de vítima de uma “Caça às Bruxas” —, associou questões políticas internas a uma mudança drástica na política comercial entre os dois países. A medida valerá inclusive para mercadorias que passarem por países intermediários, como tentativa de evitar a tarifa, segundo o comunicado.
Rochas ornamentais na linha de frente do impacto
Setor-chave da economia capixaba, a indústria de rochas naturais foi uma das primeiras a reagir à nova política tarifária. A Associação Brasileira de Rochas Naturais (Centrorochas) divulgou nota oficial manifestando profunda preocupação. Em 2024, os Estados Unidos absorveram 56,3% das exportações brasileiras do setor, totalizando US$ 711,1 milhões, dos quais impressionantes US$ 672,4 milhões (82,3%) saíram do Espírito Santo.
Segundo a entidade, a nova tarifa coloca o Brasil em desvantagem competitiva frente a países como Itália, Turquia, Índia e China, cujos produtos enfrentarão tarifas menores, agravando o risco de perdas comerciais expressivas. Mais de 200 empresas brasileiras podem ser afetadas diretamente, colocando em risco cerca de 480 mil empregos na cadeia produtiva do setor em todo o país.
“A medida representa um sinal de alerta para o equilíbrio das relações comerciais entre os dois países. Estamos em diálogo com autoridades e parceiros para tentar minimizar os impactos”, declarou a Centrorochas.
Findes: “Abertura do ES é também nossa vulnerabilidade”
A Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) também reagiu de forma contundente. Em nota assinada pelo presidente Paulo Baraona, a entidade criticou duramente a medida, classificando-a como “severa, unilateral e de viés político-partidário”, além de uma violação dos princípios do comércio internacional.
Segundo a Findes, o Espírito Santo possui uma das economias mais abertas do Brasil, o que, se por um lado impulsiona seu desenvolvimento, por outro o torna mais vulnerável a decisões externas abruptas como esta.
“A relação comercial entre ES e EUA é historicamente sólida. Em 2024, os EUA representaram 28,6% das exportações capixabas, com um saldo comercial positivo de mais de US$ 1 bilhão. Esse cenário agora está ameaçado por uma política comercial arbitrária”, diz a nota.
Entre os setores capixabas que mais devem sentir os efeitos do tarifaço estão: aço, rochas ornamentais, papel e celulose, minério de ferro e café, todos com forte presença nas exportações estaduais.
A Findes também reforçou a importância de uma atuação firme do governo brasileiro junto aos órgãos internacionais e em negociação bilateral com os EUA.
“Decisões comerciais não devem ser reféns de disputas políticas internas. Esperamos que o Brasil reaja à altura, defendendo os interesses nacionais e preservando a previsibilidade nas relações econômicas”, conclui Baraona.
Trump ameaça e pressiona por produção nos EUA
Em sua carta ao presidente Lula, Trump afirmou que empresas brasileiras que optarem por produzir em solo americano poderão ser isentas da nova tarifa — um aceno direto à transferência de unidades produtivas para os EUA. Ele também deixou aberta a possibilidade de aumentar ou reduzir a tarifa conforme o comportamento do Brasil.
Trump anunciou ainda a abertura de uma investigação formal com base na Seção 301 — mecanismo usado para apurar práticas comerciais desleais — contra o Brasil. Segundo ele, o país impõe “tarifas e barreiras injustas” ao comércio norte-americano e vem dificultando a atuação de plataformas digitais dos EUA no Brasil, o que teria motivado parte da retaliação.
A escalada das tensões comerciais entre Brasil e EUA, agora agravada por motivações políticas, coloca em xeque a estabilidade do ambiente de negócios e a previsibilidade das exportações brasileiras. No Espírito Santo, a preocupação se estende a toda a cadeia produtiva e ao impacto direto sobre emprego, arrecadação e crescimento econômico regional.