Faleceu nesta quarta-feira (23), em São Paulo, o padre jesuíta César Augusto dos Santos, aos 80 anos. Religioso da mesma ordem do Papa Francisco e do próprio São José de Anchieta, ele dedicou quase seis décadas à Companhia de Jesus, tendo papel importante na história recente da Igreja Católica no Brasil. Foi o primeiro reitor do Santuário Nacional de São José de Anchieta, no Espírito Santo, e também atuou como vice-postulador do processo de canonização do jesuíta — causa que foi conduzida no Vaticano e finalizada em 2014 pelo próprio Papa Francisco.
Padre César Augusto exerceu papel de destaque na preservação e difusão da memória de Anchieta, sendo reconhecido por seu profundo conhecimento sobre a vida e obra do santo, lembrando também pela fundação do Colégio Jesuíta de Vitória – hoje Palácio Anchieta – e pela cidade que leva seu nome no litoral capixaba. A ligação com Anchieta era antiga: em 1997, coordenou as celebrações dos 400 anos da morte do missionário. Já entre 2014 e 2017, assumiu a missão de liderar o recém-inaugurado santuário capixaba, estruturando seu funcionamento e consolidando sua relevância nacional.
Missão em Roma e contribuição histórica
Antes de retornar ao Brasil, padre César viveu em Roma por sete anos, onde dirigiu o programa brasileiro da Rádio Vaticano. Sua permanência na Santa Sé coincidiu com momentos históricos da Igreja, como a renúncia do Papa Bento XVI e a eleição do Papa Francisco. “Foi um momento muito rico. Você muda a cabeça, passa a entender a Igreja no mundo todo”, declarou, em entrevista concedida à emissora em sua despedida da Itália.
Foi também nesse período que colaborou ativamente na causa da canonização de Anchieta, sendo um dos responsáveis por reunir documentos, provas e argumentos históricos que sustentaram o pedido de santificação.
A canonização foi oficializada em abril de 2014, sem a exigência de comprovação de milagre, dada a relevância de Anchieta na formação espiritual e cultural do Brasil.
Designado para o território capixaba
“Sentimento de dever cumprido, sentimento misto de alegria e saudade. É bom voltar ao Brasil”, afirmou padre César ao ser nomeado como primeiro reitor do Santuário de Anchieta, no município de mesmo nome, no litoral sul capixaba. Durante sua posse, a celebração foi presidida pelo então arcebispo de Vitória, Dom Luiz Mancilha Vilela. O jesuíta declarou que desejava investir no santuário como espaço de crescimento espiritual e resgate cultural da fé católica.
Em entrevista na época, destacou que conhecia o local desde o início de sua formação religiosa. Sua gestão foi marcada pela valorização da história da missão jesuíta no Brasil e pelo fortalecimento da vocação do espaço como centro de peregrinação, oração e diálogo com a cultura local.
Vida e legado
Nascido em 1943, César Augusto ingressou na Companhia de Jesus aos 20 anos, no Mosteiro de Itaici (SP), em 1966. Foi ordenado presbítero em 1975, na Igreja Santo Inácio, no Rio de Janeiro. Ao longo de sua trajetória, também atuou como membro da comunidade do Pateo do Collegio, em São Paulo, onde acumulou funções de liderança em comunicação, desenvolvimento e coordenação de projetos pastorais.
Entre colegas e fiéis, padre César era admirado por sua serenidade, dedicação e olhar sensível às transformações da Igreja no mundo contemporâneo. Deixa um legado de serviço, conhecimento e compromisso com a fé e com a cultura brasileira.
Despedida
A Companhia de Jesus no Brasil comunicou a morte do religioso com pesar e gratidão. O velório será realizado nesta quinta-feira (24), a partir das 9h, na Comunidade Nossa Senhora da Estrada, em São Paulo. A missa de corpo presente está marcada para as 15h, seguida do sepultamento às 17h no Cemitério Santíssimo Sacramento.