“Um sofrimento muito grande, eu nunca vi nada igual”, relata morador de Vitória que tenta sair do RS após catástrofe climática

Em meio a catástrofe que devastou centenas de cidades do Rio Grande do Sul e já deixou mais de 100 mortos, capixabas que vivem ou que estavam passando pelo estado nos últimos dias agora tentam voltar para o Espírito Santo, mas enfrentam dificuldades para escapar da enchente.

O diretor de vendas Pablo de San Felix, de 45 anos, conversou com a reportagem da Record News ES e contou que precisou dormir dentro do carro por três noites, pois não tinha onde ficar na cidade de Guaíba, no Rio Grande do Sul. Ele viajou para o Sul do País no último dia 29 de abril para se reunir com alguns clientes, quando no dia 2 de maio se viu isolado em meio a cidades completamente alagadas.

“No dia 2 a noite a ideia era voltar para Porto Alegre, mas eu fiquei preso na cidade de Guaíba, pois Eldorado do Sul, que fica entre os dois municípios, estava completamente inundada. Eu não consegui nenhum hotel na região, porque já estavam todos ocupados com pessoas que acabaram ficando desabrigadas. Eu parei o carro num restaurante, para poder ter um pouco de suprimento e sinal de wifi e fiquei três noites dormindo no carro”, contou Pablo.

O diretor de vendas contou ainda que no 4° dia conseguiu retornar para estrada para tentar sair do Rio Grande do Sul. “Eu rodei um pouco com o carro alugado que eu estava até acabar o combustível, daí peguei três ônibus para chegar até Florianópolis (SC). Vi muita desgraça em volta, muita tristeza, eu até sofri um pouco, mas nada perto do que eu vi lá, de tanta gente que perdeu tudo, perdeu parentes, pessoas desaparecidas, um sofrimento muito grande mesmo, eu nunca vi nada igual”, relatou.

A expectativa é de que Pablo, que mora em Jardim Camburi, na capital, retorne ainda nesta sexta-feira (10) para Vitória.

RS tem 116 mortes e 143 desaparecidos

Foto: Gustavo Mansur / Palácio Piratini

Ao menos 116 pessoas perderam a vida e outras 143 estão desaparecidas em consequência das fortes chuvas que atingem o Rio Grande do Sul desde o último dia 26 – com maior intensidade a partir do dia 29.

Desde esta quinta-feira (9), a Defesa Civil estadual está divulgando os nomes de pessoas que morreram, bem como das cujo paradeiro é desconhecido. A lista já tem seis páginas. E não para de crescer.

Até o meio-dia de hoje (10), a Defesa Civil estadual contabilizava cerca de 1,9 milhão de pessoas de alguma foram afetadas, em 437 cidades, por efeitos adversos das chuvas, como inundações, alagamentos, enxurradas, deslizamentos, desmoronamentos e outros.

Em todo o estado, ao menos 337.346 pessoas desalojadas tiveram que, em algum momento, buscar abrigo nas residências de familiares ou amigos – muitas destas seguem aguardando que o nível das águas baixe para poderem retornar a suas casas. Outras 70.772 pessoas ficaram desabrigadas, ou seja, sem ter para onde ir, precisaram se refugiar em abrigos públicos ou de instituições assistenciais.

Frente a dimensão dos estragos, o governador Eduardo Leite reconheceu que não só o Rio Grande do Sul, mas todo o Brasil, terão que se ajustar a um novo contexto, no qual os eventos climáticos extremos têm se tornado cada vez mais frequentes – segundo especialistas, como consequência das mudanças climáticas e do aquecimento do planeta.

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