UMA NOVA ADVOCACIA

Completando vinte anos de profissão temos que reconhecer que a advocacia mudou muito, na lida do dia a dia a mudança é abissal. Das fichas de andamento processuais que precisavam de atualização manual e com a ida pessoal em cada vara judicial, ao envio de andamento pelo push com atualização direta no sistema de controle digital. Da leitura diária do diário oficial tentando localizar nosso nome, ao recebimento da publicação na palma da mão.

As mudanças em nossas atuações e rotinas vieram acontecendo durante anos, mas a pandemia trouxe uma verdadeira revolução nas nossas vidas e também a nossa profissão, que nitidamente fez surgir uma nova advocacia.

Vimos que a pandemia trouxe o ambiente virtual como regra, onde inegavelmente os jovens já dominavam e potencializaram para qualificar mais os conteúdos e manter as redes mais profissionais, enquanto coube aos escritórios e aos advogados com mais experiência jurídica reconhecer este caminho como uma fonte de conhecimento e até de prospecção.

Estamos buscando novas formas de nos colocar indispensáveis para as soluções adequadas de conflitos sem a judicialização, de estar mais presente no dia a dia do cliente com canais mais interativos de comunicação, de nos colocar de forma séria e ética nas mídias sociais como forma de mantermos nossa visibilidade.

Também estamos exercendo a advocacia em audiências, sustentações orais, reuniões, assembleias, eventos e tantos outros, para todos estes atos, precisamos adequar os ambientes com iluminação e fundo compatível com a formalidade exigida.

Temos então uma nova advocacia, a que precisa saber quais as melhores ferramentas e equipamentos que lhe trarão melhor imagem e áudio nos atos a serem praticados no ambiente virtual. A advocacia que precisa melhorar a postura e ter uma oratória mais ativa e direta no vídeo para não perder a atenção dos interlocutores das telas, seguidores e porque não, dos clientes.

As inovações, sem dúvida, trazem praticidade e celeridade para todas as partes, mas os advogados deverão estar atentos ao novo formato para a ele se ajustarem. Deverão, por exemplo, ser ainda mais objetivos nas mensagens e precisos em seus memoriais orais, a fim de não enfadar ou perder a atenção do receptor.

Os escritórios sentiram a necessidade ter em sua equipe ou terceirizar, alguém focado na imagem e visibilidade que busca nas redes sociais e nos canais possíveis de comunicação com uma nova clientela que também busca no virtual identificar o profissional que melhor traga segurança.

Boa parte das reuniões no meio corporativo, ao qual participa o advogado, também passarão a se firmar pelas plataformas online, e provavelmente seguiremos com os julgamentos e sustentações orais por videoconferência e podemos até preferir o despacho pela tela com o magistrados.

Não existe espaço nem tempo para críticas e questionamentos, pois o ambiente virtual é a realidade mais efusiva dos tempos modernos e esta transformação é o simples acolhimento da nossa profissão ao ambiente social que já existia e que a grande maioria estava alheia.

No entanto, a advocacia como atua na área sensível da sociedade carrega uma das maiores responsabilidades do estado democrático, precisa manter a velha e máxima rotina de ter muito conteúdo para entregar o que promete e é o que traz tranquilidade para praticar qualquer ato em qualquer ambiente.
De outro lado, precisamos combater fragilidades processuais que trazem insegurança jurídica e dificuldades inconstitucionais à defesa em todo e qualquer ato virtual, tais como a oitiva de testemunha de forma remota, a sustentação oral por meio de vídeos e não ao vivo como deveriam, até mesmo a tentativa de realização de júri.

Então, temos novos enfrentamentos a serem o front da nossa instituição de classe. Se o legislador demora para se adaptar, ao judiciário não lhe cabe alterar procedimentos em prejuízo da sociedade, cabendo também à nova advocacia e à OAB estarem preparadas para estes confrontos.