Morreu nesta quinta-feira (23) o poeta capixaba Sérgio Blank. A notícia foi dada por uma irmã dele, que depois de dar por sua falta, o encontrou morto na casa em que ele morava, no bairro Campo Grande, em Cariacica. Sérgio Blank tinha 56 anos e há um ano foi eleito para a Academia Espirito Santense de Letras. Suspeita-se que sua morte tenha decorrido de um enfarte. Nascido em Campo Grande, Blank era um dos maiores escritores capixabas da atualidade. Sua morte teve repercussão nas redes sociais com muitos amigos, ativistas e militantes do meio cultural lamentando sua morte. Sérgio Blank há muito enfrentava problemas de saúde e esperava por um transplante de fígado que não teve tempo de receber.
Sérgio Blank escreveu, entre outros, os livros Blue Sutil (2020), Os dias ímpares – toda poesia (2011) que reúne os cinco títulos anteriores; Safira (1989), Poesia: Estilo de ser assim, tampouco (1984), Pus (1987), Um (1988), A Tabela Periódica (1993) e Vírgula (1996). Nos últimos anos organizava, pela internet, o “Projeto Por que você escreve?”.
Em sua última postagem no Facebook, feita na manhã de quarta-feira (22) escreveu: “Fico feliz quando sou convidado para visitar escolas e conversar com as crianças sobre meu livro Safira. Gosto quando as professoras me apresentam com um escritor infantil. O compromisso de um escritor infantil devia ser soltar pipas, jogar bola de gude, tomar banho de chuva descalço, comer fruta tirada-do-pé, colecionar álbuns de figurinhas, brincar de pique-esconde e comer algodão-doce feito de nuvens. Essas pequenas delícias da poesia. Aprecio ser um escritor infantil.”
Pelo Twiteer, o governador Renato Casagrande registrou: “Hoje a cultura capixaba perdeu um dos seus gigantes. Fica o legado de Sérgio Blank, suas palavras e poemas ecoando entre a gente. Meus sentimentos aos amigos e familiares”.
A Academia Espírito-santense de Letras postou no seu site oficial: “É com imenso pesar que a Academia Espírito-santense de Letras recebe a notícia do falecimento do acadêmico Sérgio Blank. Uma grande perda para a literatura do Espírito Santo, especialmente no campo da poesia, em que Sérgio Blank desenvolveu sua brilhante carreira literária. Há exatamente um ano, o poeta tomava posse na cadeira 9 da Academia Espírito-santense de Letras. A saudade é grande, mas nos conforta saber que sua obra permanecerá viva entre nós”.
A amiga e escritora Bernadette Lyra escreveu na sua página no Facebook: “As estrelas não são mais necessárias; apague-as uma por uma/Guarde a lua, desmonte o sol /Despeje o mar e livre-se da floresta /pois nada mais poderá ser bom como antes era”/. (Funeral Blues/W.H.Auden). Tristeza infinita pela perda do poeta Sérgio Blank, hoje…Só resta a lembrança de belos dias, como nesta foto, em que ele está ao meu lado e do escritor Reinaldo Santos Neves. Vá em paz e encontre a delicadeza azul que tanto amava, meu amigo”.
O jornalista e escritor José Roberto Santos Neves, escreveu: “Descanse em paz, Poeta. A saudade é grande, mas nos conforta saber que sua obra permanecerá viva entre nós”.
“POETA-MOR CAPIXABA, PARA SEMPRE VIVO!
“Sérgio Blank produz uma poesia de fazer borboleta desnudar-se de asas, de atear fogo nos oceanos, de aquietar congresso de trombetas. Sem embaraço e com loas a mortos exemplares, repito à exaustão: dentre os vivos, ele é o poeta-mor capixaba. Na fase atual, que nos concedeu os acordes dissonoros de Blue sutil, sua prosa poética marca andamento e compasso de equilíbrio ímpar. Quem já bamboleou passos no balanço de arame farpado assim peculiar?
A vizinhança de estilo, amparada na inigualável fatura estética do texto de Sérgio Blank, pode ser garimpada no ouro temático de O spleen de Paris, de Charles Baudelaire, ou de a Prosa poética, de Arthur Rimbaud. Senão vejamos: “…pela janela aberta da sala, eu contemplava a arquitetura móvel que Deus faz com os vapores…” (A sopa e as nuvens, CB); “…Acreditei-me possuído de poderes sobrenaturais. Pois bem! Devo enterrar minha imaginação e minhas lembranças!…” (Adeus, AR). Ou, ainda na galeria da transcendência, Sérgio Blank, em Blue sutil: “…Não sei rezar. Acredito que molhar os pés nas ondas do mar é uma oração. O silêncio desenhado no horizonte é uma prece…”.
Os poemas desse seu incrível manual da sensibilidade são despidos de moldura, não têm título; se me pedisse para batizar o poema citado, eu lhe ofertaria Oração. Mas Sérgio não é de pedir nada com o idioma da voz. Não pediu sequer voto para entrar na Academia Espírito-Santense de Letras. Ousadamente, eu fiz campanha em seu nome, como se ouvisse rumoroso apelo de sua tão serena poesia. Houve farta concorrência, mas ninguém saiu derrotado. Porque a literatura venceu.
PS.: Escrito para uma publicação, na ocasião do lançamento de “Blue Sutil”. Sérgio não era Blank, era Blue. Sutil. Requiescat In Pacem, meu amigo. Muito comovido…”, escreveu o jornalista e escritor Adilson Vilaça, no Facebook.
O escritor Francisco Aurelio Ribeiro, na orelha de livro A tabela periódica, assim definiu Sérgio Blank: “poeta totalmente inserido na ‘condição pós-moderna’. Seus poemas têm como marcas recorrentes dessa estética a morte da inocência, a destruição do outro, o cinismo assumido, a simulação da realidade, o narcisismo, o escatológico e a desconstrução.” Reinaldo Santos Neves definiu-o como “autor de sombrias canções, escritas em idioma de algaravia, que versam sobre um tal de homo sapiens perdido e confuso num mundo em adiantado estado de decomposição”.
Da Redação