Interesses corporativos e interesse Público

Já dizia Peter Drucker que a cultura de uma organização come a estratégia no café da manhã. A frase atribuída ao mestre da gestão revela muito sobre as ameaças que representam hoje determinados interesses das corporações para agenda de desenvolvimento de uma empresa ou de um país.

De antemão deixo claro que não tenho prevenção alguma contra qualquer categoria do serviço público. Aliás, sou, com muito orgulho, servidor público de carreira há 32 anos.

Meu posicionamento será sempre dirigido contra a defesa de propostas ou posturas que são claramente contrárias aos interesses da coletividade.

É com essa premissa que proponho a reflexão.

Na era do politicamente correto propor a discussão de temas como este não deixa de ser um ato de coragem.

Digo isso porque, tenho que admitir, diversas categorias de servidores públicos conseguiram ao longo dos anos convencer parte da sociedade que seus interesses confundem-se com os interesses da maioria.

Uma retórica exitosa que conta também com uma barulhenta e intransigente defesa com ataques ferozes e persistentes contra seus críticos.

Qualquer um que levante a voz para questionar determinados pontos de vista, especialmente aqueles que atingem interesses de determinadas categorias, será alvo de um verdadeiro massacre.

O que temos hoje é um debate prejudicado pela histeria proposital que o senso comum acolhe sem filtros.

Nem sempre o que é bom para determinadas categorias do serviço público é bom para a população. Isso não significa que devemos ser contra qualquer pretensão ou reivindicação. Pelo contrário.

É claro que desejamos ter servidores motivados e valorizados, a questão é deixar claro que esse processo de valorização ou de defesa de prerrogativas deve levar em conta os interesses da coletividade, uma vez que é a sociedade que suporta financeiramente todo serviço público.

O que importa é saber quais prerrogativas ou benefícios são realmente importantes para que o servidor desempenhe bem suas atividades e se a sociedade tem condições de financiá-los.

A pandemia da COVID-19, além da calamidade sanitária, resultou em uma profunda crise econômica que está, infelizmente somente no seu início. Milhões de brasileiros perderam seus empregos e muitos outros estão a depender de auxílios estatais ou da bondade de terceiros.

Diante de um cenário desolador, a União preparou um pacote emergencial de ajuda aos estados e municípios com o intuito de suprir parte das despesas com o enfrentamento da pandemia e, também, de compensar a queda brutal de arrecadação.

Entretanto, a dramaticidade da situação parece ainda não ter convencido parte do serviço público e seus representantes, pois, mesmo diante da catástrofe que atinge a imensa maioria dos brasileiros, ainda há aqueles que defendam a concessão de reajustes salariais no serviço público.

Uma completa e descabida falta de bom senso e empatia com a grande maioria da população.

O descolamento da realidade e essa indiferença com o sofrimento alheio podem ensejar uma mudança significativa no olhar da sociedade sobre o serviço público, que pode ser engolido pelo novo normal que virá.

Ainda há tempo para rever conceitos.