Sempre é difícil acreditar

Será decisivo para nossa história, para a continuidade da humanidade, que toda a cadeia de desenvolvimento seja reconstruída. Sob esse aspecto, o mundo precisa passar por uma revolução sob pena de extinção; essa frase não é catastrófica, é real, sobretudo diante da fratura exposta que se revela a cada dia. E interceder pelo bem comum não pode ser mais um mero discurso político, pois a ameaça nuclear, o terrorismo e as guerras, embora sejam destrutivas e jorrem dinheiro às favas, não são ameaças tão imediatas.
Tudo que se compreendia antes precisará ser reescrito. É como se o Terra desse um recado: seres humanos, querem progredir enquanto tecido humano ou apenas como tecido animal?
Negar, por exemplo, as mudanças climáticas é fácil para um governante, pois sua mais nefasta face ainda não chegou e vai demorar. Sob a ótica eleitoral, 15 (quinze) ou 20 (vinte) mandatos políticos ainda serão suficientes para dissuadir uma infinidade de incautos, pouco atentos. Muito embora esteja evidente, ainda será possível subtraí-la da realidade com base num governo e discurso meramente desenvolvimentista, “propagador” de empregos e rendas.
Todavia, uma ameaça “inesperada” veio antes do holocausto ambiental.
De uma hora para outra não sabíamos que existia tanto dinheiro nos bancos centrais.
De uma hora para outra não sabíamos que tudo era tão frágil como uma louça.
A verdade é que uma onda populista, que varreu o mundo, distanciou o diálogo entre as nações gerando pouca interação nas políticas da área da saúde. A ciência já vinha alertando sobre uma possível pandemia que poderia assolar o mundo, mas é mais fácil continuar a caminhada civilizatória voluntariosa do que se programar com antecedência.
Essa crise vai passar, e outros tantas poderão vir mais graves ou serenas a depender da nossa capacidade de reação e reorganização enquanto sujeitos de um processo civilizatório errático.
Todavia qual a lição disso tudo? Qual o equilíbrio para ministrar o deslocamento do pêndulo entre o desenvolvimento e a proteção aos seres humanos, principalmente os mais frágeis?Qual recado está sendo dado à humanidade por um vírus invisível?
Se todos estamos numa mesma barca e precisamos ter fé, não podemos perder essa oportunidade. A verdadeira virada terá que vir sob pena indelével de fracassarmos enquanto seres pensantes e intelectuais.
Sempre é difícil acreditar, porque, naturalmente, somos céticos, ainda que as evidências sejam gritantes. Usemos definitivamente o inconsciente individual e coletivo à nosso favor, para não nos deixarmos enganar e tampouco esperar para o último momento aquilo que podemos fazer antes.
Estamos diante de uma oportunidade para rediscutir a onipotência humana e criarmos mecanismos sócio-políticos, sócio-econômicos, infecto-sanitários e sanitários-ambientais, universais, preventivos, eficazes e automáticos, capazes de oferecer mútua ajuda entre as nações. Uma mudança de linguagem, uma mudança indelével no diálogo entre os eixos econômicos mundiais, donde o G-20 precisa ser redesenhado para um sistema verdadeiramente worldwide!